Uma palavra sobre a lei de Moisés

Introdução

A lei de Moisés. Sem dúvidas, um assunto controverso no cristianismo. Enquanto alguns resistem a qualquer apelo direto ao AT como um guia da vida cristã ou a vida na igreja (e.g., Lutero); outros entendem que a lei deve servir de guia no governo da igreja (e.g., Heinrich Bullinger). Cada teólogo de renome tem algo a dizer sobre a lei. Para Calvino, o principal uso da lei é o chamado “terceiro uso” – o uso teológico. Barth, por exemplo, Lei é o conteúdo do Evangelho. Daniel Fuller afirma não haver elementos contrastantes no Evangelho e na Lei – ambos são um todo contínuo.

Devido ao indiscutível desacordo para com a função da Lei de Moisés na igreja, faz-se necessário uma meditação sobre o assunto. É fato que meu objetivo não é apresentar um tratado sobre a lei, mas simplesmente introduzir o leitor ao assunto e a algumas de suas principais nuanças. Espero poder ajudá-lo.

Visões quanto à Lei (cf. GUNDRY, 2003).

1. Reformado Não-Teonômico: como os reformados, eles dividem a lei em três partes: moral, cerimonial e civil. Tal divisão é vital para a argumentação dos três primeiros pontos de vista. Para os não-teonômicos, “as leis cerimoniais, as leis civis e o código penal foram anulados, e a lei moral [os dez mandamentos] recebeu mais esclarecimentos na pessoa e nos ensinos de Jesus Cristo” (VANGEMEREN, in: Lei e Evangelho, 2003, p. 39 - itálico nosso). A continuidade da lei se resume aos dez mandamentos.

2. Reformado Teonômico: “…as leis permanentes do AT continuam moralmente obrigatórias no NT, a não ser que sejam abolidas ou modificadas por revelação posterior” (BAHNSEN, in: Lei e Evangelho, 2003, p. 154). Para estes, as únicas leis abolidas foram as leis relacionadas aos sacrifícios e à pureza.

3. Lei com estímulo à santidade: nega a concepção antagônica entre lei e evangelho. Os contrastes apresentados nas Escrituras não são entre o evangelho e a lei, mas entre o evangelho e a perversão da lei pelos judeus (legalismo). Como nas visões apresentadas acima, a divisão da lei em três partes é crucial para essa visão, pois “se a lei continua de alguma forma sendo autoridade direta para o crente, precisamos concluir que algumas das suas leis precisam ser colocadas em categorias diferentes de outras” (MOO, in: Lei e Evangelho, 2003, p. 242 – itálico nosso).

4. Dispensacionalista: a lei é um todo e sua relação direta com o povo de Deus chegou ao fim com a vinda de Cristo e a igreja. As conclusões teológicas são iguais as do luterano modificado. Porém, eles chegam por “caminhos exegéticos e teológicos” diferentes.

5. Luterano Modificado: como no luteranismo tradicional, Lei e Evangelho são conceitos antitéticos que coexistem ao longo de toda Bíblia (MOO, in: Lei e Evangelho, 2003, p. 237). No primeiro temos o que Deus exige de nós e no segundo o que ele nos dá. A modificação da visão luterana tradicional está na natureza do contraste entre Lei e Evangelho. Essa escola defende um contraste histórico. Há descontinuidade entre a lei mosaica e o evangelho de Cristo. Toda lei mosaica tem seu cumprimento em Cristo. Esse cumprimento significa que a lei de Moisés não é mais a fonte direta e imediata, ou o juiz da conduta do povo de Deus. Eles são aplicáveis a nós “na medida em são passados para nós por meio de Cristo” (MOO, in: Lei e Evangelho, 2003, p. 95). Para não serem confundidos com antinomistas, eles afirmam que ainda estão sujeitos à lei de Deus, mas não à lei mosaica.


A Divisão da Lei: Muitos dividem a Lei de Moisés em três partes: moral, cerimonial e civil. Tal divisão é questionável e perigosa, pois pode incentivar erros exegéticos quando tratada como um pressuposto na prática interpretativa. Além disso, a divisão da lei em três partes é desconhecida tanto nas Escrituras (AT e NT) como na antiga literatura rabínica (cf. DORSEY, 1991, p. 329). O próprio Senhor Jesus tratou a lei dessa forma – como um todo (cf. Mt. 23:23). Categorizar uma parte lei como “moral” é, no mínimo, curioso. Não seria toda a Lei moral? (ibid., p. 330). A divisão aqui questionada não é divisão de importância, pois reconhecemos que essa existe, mas àquela que reparte a lei em partes “opcionais” ou “temporárias”.

Para justificar a divisão da lei, alguns têm recorrido aos contrastes como os que encontramos em Oséias 6:6: “Pois misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos”. Quando a atitude de coração é colocada em contraste com os rituais como em Oséias 6:6, a intenção “não é descartar os rituais como opcionais ou passíveis de serem ignorados” (MOO, in: Lei e Evangelho, 2003, p. 244 – itálico nosso).

Por fim, o ônus da prova está com aqueles que defendem a divisão.


O uso do vocábulo “Lei” (nomos) em Paulo
(cf. MOO, 1983, pp. 75-85):

1. Das 119 vezes que Paulo usa a Lei, nenhuma se encontra no plural. Assim, Paulo trata da Lei como uma entidade ao invés de uma série de mandamentos.

2. A presença ou não de artigo antes de nomos tem levado alguns estudiosos a crer que a presença do artigo é uma referência a lei de Moisés e a ausência do artigo à lei em geral. Há dois problemas com tal concepção: (a) O uso claro de Josefo, Filo e da LXX do anartro (substantivo sem artigo) referindo-se claramente a lei de Moisés. (b) Considerações sintáticas também explicam a variação do uso de nomos.

3. nomos significando “sistema”, “ordem”, “autoridade” sempre é construída no genitivo.

4. Paulo usa nomos para se referir a Palavra de Deus como um todo (cf. Rm. 3:19; 1Co. 14:21). Uma característica dessas ocorrências é o uso de uma forma de grafo e lego com nomos.

5. A grande maioria do uso Paulino de nomos faz referência a mandamentos, requerimentos e principalmente a um corpo ou sistema de mandamentos ou requerimentos exigidos do homem.

6. Ocasionalmente Paulo usa nomos como referindo-se a vontade de Deus.

7. Para se entender a doutrina da lei em Paulo é vital saber que ele usa nomos referindo-se a lei de Moisés.

8. Lei refere-se a mandamentos mediados por Moisés.

9. A Lei é um todo indivisível (Gl. 5:3).

10. Alguns (e.g., Cranfield) têm dito que Paulo usa nomos com o sentido de legalismo visto que não há palavra grega para tal conceito. Entretanto, a linguagem grega providencia recurso suficiente para expressar esse conceito (cf. Gl. 3:11, 18, 21; Rm. 4:13, 14; 10:3, 5; Fp. 3:9). Geralmente o que leva as pessoas a considerarem tal significado para no,moj é evitar uma avaliação negativa do AT por Paulo.

Lei como AIO: Uma das funções da lei é servir de “aio” até a chegada de Cristo. As traduções portuguesas têm traduzido a preposição grega eis como “para nos conduzir a Cristo” (Gl. 3:24 – ARA, ARC, TB) trazendo a idéia a condução ao invés de tempo. Esse é o texto usado para falar do uso teológico da Lei. Para Calvino, a Lei foi dada para mostrar a necessidade de Deus e, assim, conduzi-las a Cristo. Para que isso fosse verdade era preciso que o verso em questão trata-se da história do indivíduo e não de um povo ou da salvação. E segundo, que a preposição eis não tivesse força temporal. Há, contudo, algumas razões para crermos diferente:

(1) O contexto de Gálatas claramente é histórico e/ou temporal. Paulo faz referência a três estágios na história da salvação: a promessa a Abraão, a Lei de Moisés e a Fé em Cristo. Paulo não está falando da experiência do indivíduo, mas da função da lei na história do povo de Deus. A nuança pessoal que isso possa trazer não é o foco de Paulo – seu foco é corporativo. Provavelmente a palavra “nosso” faz referência a Paulo e seus patrícios judeus e não a Paulo e os irmãos da Galácia. Os versos 23 e 25, ou seja, o contexto imediato, também traz elementos temporais: “antes (pro) que viesse a lei” (v.23); “tendo vindo” (v.25).

(2) A preposição pode ser traduzida pode envolver objetivo ou lugar (“em direção a”, “para”); pode ser um marcador de grau; um marcador de objetivo envolvendo aspectos afetivos e abstratos; pode ser marcador de um ponto de referência e pode está ligada a tempo (“a”, “até”, “em”) cf. BDAG. Como todo contexto geral e imediato é histórico ou temporal, a melhor tradução seria “até” ao invés de “nos conduzir”. O NTLH e a NVI entenderam assim quando traduziu “a lei ficou tomando conta de nós até que Cristo viesse…”.

(3) A palavra paidagogos pode significar “guia”, “guardião”, “líder” (cf. BDAG). Como em toda ilustração, devemos buscar o “ponto de contato” entre a ilustração e o objeto ilustrado (aio e lei). A palavra grega e sua ligação com a palavra portuguesa “pedagogo” pode nos levar a pensar em um professor (cf. KJV, AV). Porém, o paidagogos não ensina (cf. BOICE). Se esse fosse o caso, a palavra didaskalos seria a utilizada. Para Moo (1983, p. 368) paidagwgo,j era alguém que tomava conta da criança, uma babá. Daí a preferência de Keener (2005, p. 546) e Vincent (vol. IV, p. 128) em traduzir paidagogos com “guardião”. Sua função está ligada à custódia e a disciplina e não à educação ou instrução. Em Lysis, Platão revela que o paidagogos “controlava” os jovens, no caso, o próprio Lysis. Na obra de Platão isso é motivo de ironia por parte de Sócrates – um escravo controlando o seu dono. Aristóteles afirma que nossa parte apelativa deve ser controlada por princípios, assim com um garoto deve viver na obediência de seu paidagogos (Nic. Etic. 3.12.8).
Aqui as palavras de Boice nos ajudarão:

O ponto de Paulo é que a responsabilidade cessou quando a criança entrou a completude de sua posição com filho, tornando-se um adulto reconhecido pelo rito formal da adoção por seu pai. “A Cristo” [“nos conduz a Cristo”] não deve ser tomado no sentido geográfico como se o pedagogo estivesse conduzindo a criança a um mestre, como alguns tem implicado. A referência, como no verso precedente, é temporal.

Para Rendall “a posição de uma enfermeira em relação a uma criança aproxima-se mais do que a imagem de um mestre ou tutor ao escritório do paidagogos ( pois ele […] era designado a cuida-las e salvaguarda-las [...]” (RENDALL, 2002, p. 173 – itálico nosso).

A lei então guardava o povo até a vinda de Cristo. Assim, podemos entender primeiramente o limite temporal da lei e sua natureza: guardar ou manter a identidade nacional do povo de Israel.

Conclusão

A lei em algum sentido foi abolida na comunidade cristã (cf. Gl. 3:19, 24, 25 “até”). Dorsey (1991, pp. 325-9) mostra que há vários elementos temporais atrelados à lei. Realmente, na forma escrita, as leis de Moisés foram claramente temporais visto que são impraticáveis em outras realidades devido ao clima (Ex. 29:22); à cultura (Dt. 22:8); à cultura religiosa (muito das regras instituídas aos levitas está diretamente ligada aos povos vizinhos [e.g., altar de holocausto]); à estrutura governamental da igreja ser totalmente diferente de Israel que era uma nação (e.g., leis relacionadas aos reis, às cidades-refúgio; ao tratamento dado aos prisioneiros de guerra, etc.) à negação categórica do NT no tocante a descontinuidade do culto sacerdotal (Hb. 8:18). Como a lei é um TODO, não podemos pensar que somente a Lei sacrificial ou cerimonial foi abolida. Não existe essa lei, existe uma única LEI, a de Moisés.

Não está se afirmando, entretanto, que o cristão está livre de qualquer Lei – existe a lei de Cristo – a lei eterna de Deus Cf. Gl. 2:19-20. A crítica de que, negar o uso da lei mosaica é o mesmo que ser legalista (pois se criará outras leis não expressas nas Escrituras) ou antimonista (lei nenhuma), só deve ser aceita ou confirmada se eu acreditar que a lei de Moisés é toda e a única revelação de Deus aos homens. Temos o NT. Como, então, encarar os preceitos da Lei mosaica? Bem, como toda a Palavra é útil (2 Tm. 3:16), devemos buscar princípios que permeiam os mandamentos.

BIBLIOGRAFIA

BOICE, James Montgomery Boice. Galatians. In: GAEBELEIN, Frank E. (ed.) The Expositor´s Bible Commentary. Grand Rapids: Zondervan, 1984

DORSEY, David A. The Law Of Moses And The Christian: A Compromise. JETS 34/3 September 1991, pp. 321-34.

GUNDRY, Stanley (ed.). Lei e Evangelho – 5 pontos de vista. São Paulo: Editora Vida, 2003, 444p.

MOO, Douglas J. "Law," "Works of the Law," and Legalism in Paul. WTJ vol 45-1, spring 1983, pp. 73-100.

RENDALL, Frederic. The Epistle to the Galatians. In: NICOLL, Robertson (ed.). The Expositor´s Greek Testament, Hendrickson Publishers, 2002, volume III, 547p.

VICENT, Marvin R. Word Studies in the New Tetament, Hendrickson Publishers, IV volumes.

26 comentários:

  1. Pastor Rômulo parabéns por tal artigo, que com certeza, resume bem muitas obras que tratam do assunto e de tais contradições. Aprecio bastante esta visão da lei mosaica como um todo indivisível. Apenas não consegui ainda concatenar a abolição da lei por ser temporária com os dez mandamentos. Nesta visão os dez mandamentos também teriam passado com excessão dos mencionados por Cristo? E se a lei foi apenas até o advento de Cristo o senhor crê que Ele não cumpriu a lei mosaica, aliás, modificou-a? Agradeço a atenção. E obrigado por compartilhar seu conhecimento com meros mortais como nós através deste Blog.

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  2. Bem Carlão, obrigado por ter lido o material. Quero usar a internet para divulgação dos valores do reino. LEGAL. Quanto aos dez mandamentos, eles fazem parte da lei dada ao povo israelita. Ou seja, não são eternos simplesmente por serem "os dez mandamentos". Nossa fonte para "determinarmos" se uma lei é moral e eterna não é está nos dez mandamentos, mas Cristo e os apóstolos - o NT. Dos dez mandamentos, somente um não foi repetido no NT, o sábado.

    Quanto à relação de Cristo com a Lei, entendo que a palavra "cumprimento" em Mt. 5.17 tem o mesmo sentido das fórmulas de cumprimento em todo seu livro. Ou seja, o Senhor Jesus realiza o que o AT apontava. Nas palavras de MOO "Jesus cumpri a lei, não ao explicá-la ou entendê-la, mas ao proclamar os padrões da justiça do reino que estavam previstos na lei".

    Se Cristo modificou a lei? Em certo sentido, sim. Não podemos dizer que o que Cristo tem a dizer sobre divórcio, por exemplo, é uma explicação da lei somente. No AT, um escravo poderia deixar mulher e filhos com o "patrão" em "obediência" a lei. Certamente isso não faz parte da ética de Cristo. Os valores de Moisés só "apontavam" para os valores de Cristo.

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  3. Professor seu Blog está uma beleza! Quanto à Lei um pensamento que me norteia: Há algum dos 10 mandamentos que o cristão possa quebrar sem pecar? Pode um patrão crente negar um dia da semana de folga ao seu empregado pelo fato de o 4º mandamento não ser citado no NT?

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  4. pr romulo parabéns pelo seu ministério em aquiraz

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  5. Como vai pastor?
    Passei aqui para retribuir o abraço.
    Se Deus quiser nos veremos na escola Charles Spurgeon.
    Um grande abraço meu irmão.

    Pr. André (Horizonte)

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  7. Pastor Rômulo, sou seu aluno, no curso online, da Escola Charles Spurgeon.
    Sobre a exegese feita em sala de aula, com base na explicação da palavra "aio", como tendo sentido temporal, e como um "babá" ao invés de mestre. Dessa forma você descartaria a ideia que também a Lei mostra ao homem a sua incapacidade de cumpri-la? Conforme o capitulo 4 de Romanos demonstra, que a Lei traz a lume esta verdade. A incapacidade do homem em cumpri-la, ou você entende que por mais que o sentido da palavra "aio" seja temporal, a lei também mostra ao homem o quanto o homem é incapaz de cumpri-la? Em sua opinião poderíamos conciliar estas duas verdades?

    Em Cristo
    Adriano
    www.respirandodeus.blogspot.com

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    1. Diga Guinho,

      Vamos às respostas:

      1. O que Romanos 4 fala sobre a Lei é que ela veio “depois da promessa”. Exatamente a mesma linha de argumentação de Paulo em Gálatas. O ponto de Paulo ali é que a imputação se deu “antes” de Abrão ser um judeu. Ele era um pagão, e foi nessa condição que ele creu – à parte da aliança com a nação de Israel (que ainda não existia). Observe o que Paulo diz no verso 16. Aqui Paulo deixa claro que a promessa é dada “não somente ao que está no regime da lei” (e.g., Abrão). Assim, nosso exemplo de fé não é de um israelita “filho do pacto”, pois quanto ele foi justificado, Israel nem sequer existia.

      2. Observe a hipótese levantada por Paulo no verso 14: “Pois, se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se a promessa”. Novamente a mesma “lógica histórica” de Gálatas. A base da nossa condição como herdeiros e filhos não é a lei mosaica, NÃO SOMENTE PORQUE NÃO CONSEGUIMOS OBEDECER (sua colocação), mas porque, caso fosse pela lei, Abrão estaria de fora anulando a promessa feita ANTES DA LEI.

      3. Sim, Paulo trata da nossa incapacidade de cumprir a lei. Ou seja, não descarto esse efeito da lei nas pessoas. Acho que nenhum ramo da teologia reformada negaria isso. Para mim, Romanos 3, 7, 8 são exemplos claros. A lei revela nossa incapacidade, nos escraviza e avulta o pecado. A união carne não é desastrosa.

      4. A incapacidade humana em cumprir a lei, tanto a de Moisés como a da consciência, só revela o quanto o Evangelho é poderoso e o quanto somos necessitados não somente de um “ajudador”, mas de um “salvador” (Rm. 3.21-26). Esse é o ponto de Paulo em Romanos 1.16-17 – o Evangelho é o poder de Deus.

      5. O que não podemos esquecer é que o que se diz sobre a incapacidade do Israelita quanto à lei pode-se dizer de qualquer ser humano “sem lei”, mas com a “lei de Deus em suas consciências” (Rm. 2.14-15) – a lei natural (que não é considerada em Gálatas [o texto tratado em aula]).

      6. É importante entender também que pecado envolve não somente o não cumprir certas leis, mas é um ESTADO, uma CONDIÇÃO. Não cumprimos a lei (mosaica ou natural) por causa dessa condição que revela-se, por exemplo, nos enganando mostrando que podemos, sim, cumprir ou se rebelando contra ela diretamente. A questão é: só sei disso pela lei mosaica? Ou, isso implica que a lei mosaica me leva a Cristo? cf. ponto seguinte.

      7. Se a Lei nos conduzisse a Cristo; Paulo e o Jovem Rico teriam se voltado para Ele. O problema é que ambos se consideravam “irrepreensíveis” quanto à lei. Foi em um encontro com o Cristo ressurreto que Paulo entendeu o Evangelho. No caso do Jovem Rico, foi o desafio de seguir a Cristo que o constrangeu, não a Lei. O fato é que a lei mosaica (como a natural também) tem o potencial de “conduzir” as pessoas ao legalismo e não a Cristo – como o caso dos Gálatas e todo ser humano que busca ser salvo por suas obras. Lutero defendeu o uso da lei para estimular arrependimento tanto em descrentes como crentes. Para ser direto, não encontramos no registro das pregações no NT a “metodologia luterana”. É só ler Atos. Geralmente o foco está em Cristo como o Messias prometido e na ressurreição como um evento que confirma seu messiado. Como já coloquei, o exemplo mais próximo foi o do Jovem Rico, porém, a lei não incomodou seu legalismo. Foi o chamado do Evangelho de seguir a Cristo (ou seja, deixar tudo por Cristo) que o “destruiu” e mostrou todo seu egoísmo.

      8. Talvez tenha dificuldades (e de muitos que seguem certo ramo da tradição reformada) porque ainda não solidificou a ideia de que “lei” em Paulo, na grande maioria das vezes, refere-se à lei de Moisés, ou seja, a lei que selou a aliança de Deus COM ISRAEL. Trata-se de um documento fruto de uma aliança com uma NAÇÃO, não com uma PESSOA. Se você entender “lei” dessa forma não fará sentido usá-la para CONDUZIR ALGUÉM A CRISTO. Se entendê-la (lei) em um sentido geral como uma referência ao AT ou como a vontade de Deus, sim. No sentido mais comum, lei de Moisés, penso que não.

      Abração!

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  8. Obrigado pela resposta, bastante esclarecedor!
    é exatamente o ponto 8 que você se refere, entender Lei em Paulo, faz muita diferença, e é exatamente as duas explicações que você explana no ponto 8. A diferenciação entre o sentido geral, de lei, e especificamente quando Paulo fala sobre lei, existe em Paulo algum uso de lei no sentido mais abrangente? Como o salmo 1, ou 19 por exemplo. Ou geralmente Paulo cita Lei se referindo a Lei Mosaica?

    Em Cristo
    www.respirandodeus.blogspot.com

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  9. Relendo o texto, nele mesmo fica explicito o uso da palavra lei "nomos", em Paulo, mas qual textos poderiam estar usando nomos, em referencia a vontade geral de Deus? Seria o ponto 4? Rom 3.10 e 1 Co 14.21, seriam estes somente?

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    1. Pr. Rômulo Monteiro.
      Diga meu amado Guinho,

      As passagens que creio que nomos refere-se ao cânon (sentido mais geral) são: Rm. 3:19a, 21b, 31a, b; 1 Co. 9:8, 9; 14:21, 34 ; Gl. 4:21b.

      Valeu homem!

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  10. Olá professor !
    Também sou seu aluno na escola CHS , li o post e as respostas dada ao irmão acima , já estou bem esclarecido . Talvez surja mais alguma dúvida no decorrer das aulas , sendo assim poderei esclarecer aqui .
    Parabéns pelo blog , muito bom , as abordagens são bem diferentes de outros blogs . Deus te abençoe , e que possamos continuar nos interagindo por aqui .
    Ricardo

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    1. Caro Ricardo, obrigado pelas palavras. Fique à vontade para perguntar, criticar e elogiar (KKK). O canal está aberto. Abração.

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  11. Olá professor !
    Tenho 2 perguntas .
    1. Sua aula sobre as visões sobre a lei , foi muito esclarecedora , no qual entendi bem os poréns de algumas visões. A pergunta é : Das visões dispensacionalista e luterano reformado , qual teria mais problemas exegéticos ? me identifiquei com essas visões e gostaria de me aprofundar nelas.

    2. Na aula de numero 14 foi estudado a respeito do inicio do reino de Deus , a pergunta é : tendo em vista que João Batista era da velha ordem , proclamando a nova ordem ; O reino se inicia quando Jesus foi batizado ? Quando exatamente inicia o reino de Deus na terra ?

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    1. Diga meu querido!

      Sendo direto,

      Quando à primeira questão: Penso que a visão dispensacionalista visto que suas conclusões exegéticas são fundamentadas por um pressuposto hermenêutico que divide rigidamente Israel e a Igreja.

      Quanto à segunda: Eis uma questão que divide muitos estudiosos. Não devemos ser categóricos aqui. Porém, tenho razões para crer que se deu no ministério de Jesus. Minha base é o texto de Mateus 11 (tratado em uma das aulas) e declarações como as de Mt. 12.28. Penso que não tenho fundamento quanto ao "ponto específico" (e.g., batismo). Mas, há quem creia que a vinda do Espírito Santo marca o início do Reino. A razão é que a vinda do Espírito marca o princípios dos últimos dias.

      É isso ai. Fique à vontade. Abração!

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  12. Pastor Rômulo, Ladd em sua teologia afirma que o fim da lei, Cristo, não anula a Lei, mas simplesmente nos justifica diante de Deus por fé, não por obras. Porém a lei não é anulada(tendo em vista que ela é santa, justa e boa), todavia agora ela é a maneira que o cristão pode servir a Deus não por justificação ou méritos, mas simplesmente por prazer em obedece-lo, em qual das visões isso se encaixaria? Penso que na reformada-não teonômico, pela valorização do caráter moral da Lei?
    Você concorda com essa posição em referência a lei? Outra coisa, quando lemos nos Salmos 1, 119 e tantos outros o amor ao salmista em relação a lei de Deus, não seria a mesma coisa? Obediência aos mandamentos, e isso não continua sendo um tipo de lei? Embora totalmente diferente da lei de Moisés nos sentidos civis e cerimoniais?

    Espero ter sido claro!kkkk,

    Em Cristo.
    www.respirandodeus.blogspot.com

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  13. Olá Pastor, quero elogiar seu artigo e sua pessoa. Mostra que o senhor está sempre estudando as Escrituras, ainda que nos temas mais complexos, e sem recusar a ajuda e a interação de homens como Douglas Moo (o qual o influenciou em maior grau) e a de outros, como kaiser (que apesar da discordância, foi de seu interesse ouvi-lo). É muito bom ter acesso às suas considerações, pois são fruto de pesquisa e reflexão, como mostra o seu artigo e as respostas dadas aos amigos leitores. Creio ser esse o sentimento de todos: a felicidade de tê-lo em nosso círculo de amizade, pois somos ensinados e instigados a seguir o exemplo de pesquisa e reflexão, sem nos acomodarmos dentro de um sistema e ignorarmos a as contribuições dos demais. Fiz questão de dizer estas palavras, por reconhecer sua contribuição para nossas vidas e por tentar contrabalancear os choques que, de vez em quando o senhor sofre ao expor suas conclusões teológicas. Creio que isso deve ser desmotivador, então quero deixar meu incentivo ao lembrá-lo de sua boa influência, não apenas aos membros de sua igreja, mas aos alunos e ex-alunos. Não quero dizer com isso que o senhor não tenha defeitos, todos temos,mas suas qualidades tornam sua influência muito positiva.

    Quanto ao tema objeto de seu artigo, é extremamente interessante, pois repercute não apenas no entendimento equilibrado das continuidades e descontinuidades entre os testamentos, a compreensão das implicações de nossa realidade na nova aliança ao serem confrontadas com a antiga, mas também em nossas vidas práticas, como a definição dos mandamentos que se aplicam em nossas vidas.

    Lendo seu artigo, dois artigos de Douglas Moo (contidos nos livros "continuidade e descontinuidade" e "lei e Evangelho") e as considerações de Michael Horton em "O Deus da promessa", além de não encontrar nos artigos de seus opositores uma explicação mais precisa das dificuldades dos textos bíblicos, passei a simpatizar com a ideia de que Paulo realmente estaria exortando seus leitores a entenderem que a Lei Mosaica juntamente com a antiga aliança teriam cessado a fim de que a nova aliança, com a eterna lei moral de Deus, manifestada dentro das novas condições, pudessem se iniciar.

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    1. Caro Edson, obrigado por suas palavras. Elas são realmente motivadoras. Vou guardá-las em meu coração. Sou grato por poder, de alguma forma, ajudá-lo a entender melhor um tema tão controverso. Abração!

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  14. Fiquei preocupado com esse novo entendimento, por não saber das implicações últimas dos mesmos. Além disso, estava muito confortável com a visão reformada da interpretação dos textos paulinos. Estaria eu deixando de ser reformado? Seria um rompimento com a teologia da aliança? Qual seria minha relação, a partir de agora, com os meu herois da fé modernos (reformados e puritanos)? Quanto a isso considerei da seguinte forma:
    1. Ainda é muito cedo para me comprometer com as ideia de Horton e Moo (não são iguais em tudo, mas possuem grandes semelhanças.
    2. Terei real identificação com meus herois modernos da fé se for fiel às Escrituras, como eles sempre procuraram ser, e não às ideias tradicionalmente estabelecidas.
    3. Vejo que essa mudança de compreensão na questão das continuidades não é um rompimento com a teologia da aliança em sua essência, pois a linha de continuidade é garantida pela aliança abraãmica. A unidade do povo de Deus está ali e é confirmada e esclarecida na nova aliança. Michael Horton é prova de que a teologia reformada não é invalidade por essa nova constatação.
    4. Ainda que haja um equívoco de minha parte ao não interpretar os textos com maior exatidão, no fim, as visões reformada, dispensacionalista e luterana modificada buscam, de modos diferentes, seguir aos mandamentos do Senhor e ninguém é antinomista ou legalista pelo sistema teológico em si. Até na questão do dia do Senhor, independente do entendimento, todos estão descansando e cultuando a Deus no domingo.

    Com relação ao dia do Senhor, qual é sua posição? A do Moo e do Strikland (cessação do mandamento do sábado)? Caso tenha cessado, o que fica no lugar e o que justifica o dia de domingo da maneira como nós vivemos atualmente? Qual seria o prejuízo (se existe algum) em não compreender a cessação da guarda do sábado? Qual seria o prejuízo de não reconhecer esse mandamento, caso esteja vigente? Como devemos honrar a Deus no domingo? É diferente dos outros dias? A maneira puritana está correta?

    Outra questão: a lei de Cristo é só o que o NT confirmou explicitamente ou há confirmações implícitas de mandamentos do AT? Pode o NT confirmar um mandamento do AT sem nem tocar no assunto?

    O senhor leu o livro do Horton? Gostou? Que observações positivas e negativas poderia fazer desse livro?

    Grande abraço.

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  15. Faltou a primeira parte dos meus comentários...

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  16. Queria complementar o que dissera anteriormente. Quanto ao desconforto que todo cristão (principalmente um aliancista como eu) sente ao se deparar num primeiro momento com as ideias de Moo. Se aprendemos que a graça está presente em todas as épocas e, de certa forma (a lei moral) também, não faria sentido ir para os textos de Paulo e vê-lo contrapondo a lei ao evangelho ou à graça. Se ambas estão juntas e possuem seu papel na vida dos santos de todas as épocas, Paulo não iria contra isso.

    Ocorre que, para os fins específicos, Paulo coloca os dois termos em oposição. Não se trata de negar a presença de ambos nas alianças firmadas, mas para enfatizar as peculiaridades da nova aliança e da antiga. Esta última não é um fim em si mesma, apresenta tipos que se cumprem na nova e possui seu aspecto condicional e temporário. Para esses fins é que o contraste é apresentado.

    Grande abraço.

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  17. (Essa é a primeira parte)
    Olá Pastor, quero elogiar seu artigo e sua pessoa. Mostra que o senhor está sempre estudando as Escrituras, ainda que nos temas mais complexos, e sem recusar a ajuda e a interação de homens como Douglas Moo (o qual o influenciou em maior grau) e a de outros, como kaiser (que apesar da discordância, foi de seu interesse ouvi-lo). É muito bom ter acesso às suas considerações, pois são fruto de pesquisa e reflexão, como mostra o seu artigo e as respostas dadas aos amigos leitores. Creio ser esse o sentimento de todos: a felicidade de tê-lo em nosso círculo de amizade, pois somos ensinados e instigados a seguir o exemplo de pesquisa e reflexão, sem nos acomodarmos dentro de um sistema e ignorarmos a as contribuições dos demais. Fiz questão de dizer estas palavras, por reconhecer sua contribuição para nossas vidas e por tentar contrabalancear os choques que, de vez em quando o senhor sofre ao expor suas conclusões teológicas. Creio que isso deve ser desmotivador, então quero deixar meu incentivo ao lembrá-lo de sua boa influência, não apenas aos membros de sua igreja, mas aos alunos e ex-alunos. Não quero dizer com isso que o senhor não tenha defeitos, todos temos,mas suas qualidades tornam sua influência muito positiva.

    Quanto ao tema objeto de seu artigo, é extremamente interessante, pois repercute não apenas no entendimento equilibrado das continuidades e descontinuidades entre os testamentos, a compreensão das implicações de nossa realidade na nova aliança ao serem confrontadas com a antiga, mas também em nossas vidas práticas, como a definição dos mandamentos que se aplicam em nossas vidas.

    Lendo seu artigo, dois artigos de Douglas Moo (contidos nos livros "continuidade e descontinuidade" e "lei e Evangelho") e as considerações de Michael Horton em "O Deus da promessa", além de não encontrar nos artigos de seus opositores uma explicação mais precisa das dificuldades dos textos bíblicos, passei a simpatizar com a ideia de que Paulo realmente estaria exortando seus leitores a entenderem que a Lei Mosaica juntamente com a antiga aliança teriam cessado a fim de que a nova aliança, com a eterna lei moral de Deus, manifestada dentro das novas condições, pudessem se iniciar.

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  18. Olha nós aqui outra vez!kkk, Pastor e professor, as aulas pelo modulo de Romanos tem sido ótimas, obrigado, tem me edificado bastante. A explicação do capítulo 7, como sendo referente a Israel foi realmente ótima, todavia, seguindo em frente, gostaria de lhe perguntar uma coisa:
    Mesmo entendendo que por vezes a explicação de "carne" por Paulo refere-se a natureza humana, finita, digamos assim, no entanto no capítulo 8, penso que o contraste feito entre a conduta pelo poder do Espirito e da carne, fica enfraquecida, na minha opinião, se tratando somente de natureza física, assim como em 1 Co, Paulo também vai tratar com a palavra "mundo", dizendo que o deus deste século(antiga era segundo Ladd) no que claramente mundo se refere a uma noção de humanidade em rebelião contra Deus, diga-se de passagem esta mesma idéia vem nos escritos do apóstolo João, sobre mundo. Então quando nos referimos a carne, também neste caso do capítulo 8, isso não abrangeria a natureza pecaminosa também?

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  19. Pr, Rômulo,

    Em que sentido Jesus não veio anular a lei? Isso não significa que a lei de Moisés permanece?

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  20. Pr. Rômulo tudo bem?
    Estou fazendo aulas de Teologia Bíblica com o irmão as aulas estão são ótimas.
    Acho que faz sentido sua visão da lei que se estou entendendo foi uma babá até que Cristo viesse tomando conta de Israel,gostaria de saber sua posição com relação ao dizimo que realmente Abrão pagou antes da lei mas foi realmente instituído na Lei Mosaica qual sua posição.

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  21. Pr Rômulo estou assistindo suas aulas de Teologia Bíblica são ótimas,gostaria de saber o qual a sua posição sobre o dizimo sabemos que Abrão deu, mas realmente foi institucionalizado na lei?

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Perfil

Minha foto
Rômulo Monteiro alcançou seu bacharel em Teologia (Seminário Batista do Cariri – Crato/CE) em 2001; concluiu seu mestrado em Estudos Bíblicos Exegéticos no Novo Testamento (Centro de Pós-graduação Andrew Jumper – São Paulo/SP) em 2014. De 2003 a 2015 ministrou várias disciplinas como grego bíblico e teologia bíblica em três seminários (SIBIMA, Seminário Bíblico Teológico do Ceará e Escola Charles Spurgeon). Hoje é professor do Instituto Aubrey Clark - Fortaleza/CE) e diretor do Instituto Bíblico Semear e Pastor da PIB de Aquiraz.-CE Casado com Franciane e pai de três filhos: Natanael, Heitor e Calebe.