Idolatria no coletivo

Não me lembrava da última vez que me vi “em pé” em um ônibus. Mas lá estava eu, depois de andar alguns quilômetros, com fome e cheio de sacolas marcando os dedos, diante de várias poltronas ocupadas. “Quem seria o primeiro a sair?”, pensei instintivamente. A decisão deveria ser rápida. E optei acertadamente. Logo estava diante de um cobrador. “Acho que está de folga”, “Deve descer no ponto oficial que fica a uns três minutos daqui”, ponderei.

Passado os três minutos, como esperava, o cobrador deu sinais claros de que iria desocupar a poltrona. Estou certo de que brotou um sorriso no canto do meu rosto. Então veio o inesperado. “Por favor”, disse o cobrador, “você pode chamar aquela senhora? Quero que ela sente no meu lugar!”. “Claro”, respondi prontamente.

Tratava-se de uma senhora com seus sessenta anos. Obedecendo ao cobrador, aproximei, e de forma educada, disse: “A senhora pode sentar ali se quiser”. Notei que estava cansada. O nobre cobrador tinha feito uma boa escolha. Talvez analisou bem antes de tomar a decisão.

Um pormenor passou desapercebido naquela tarde. A senhora não viu que a iniciativa de ceder o lugar tinha sido do cobrador e não minha. Em sua mente, eu, o rapaz educado, havia cedido amorosa e sacrificialmente o lugar. Não era verdade. A despeito do meu egoísmo e indiferença, ela me tratou com dedicação e benevolência. Aproximou dela todas as minhas sacolas e me chamou de “filho”. A alegria que senti pela poltrona vazia foi substituída pela vergonha da glória imerecida. O louvor daquela senhora era sincero, mas era fruto do engano (não tinha sido idéia minha). Seu bom tratamento era bem intencionado, mas ao mesmo tempo injusto. Como todo louvor e glória que não são oferecidos a Deus; era uma honra boba, injusta e sem sentido.

E o cobrador? Merecia a glória? Claro que não! Assim como eu, ele também recebeu "ordens" de Outro. Louvemos a Deus! A Ele a glória! A Ele, toda glória é justa, merecida e certa. Nunca nos enganamos quando a Ele louvamos.

Perfil

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Rômulo Monteiro alcançou seu bacharel em Teologia (Seminário Batista do Cariri – Crato/CE) em 2001; concluiu seu mestrado em Estudos Bíblicos Exegéticos no Novo Testamento (Centro de Pós-graduação Andrew Jumper – São Paulo/SP) em 2014. De 2003 a 2015 ministrou várias disciplinas como grego bíblico e teologia bíblica em três seminários (SIBIMA, Seminário Bíblico Teológico do Ceará e Escola Charles Spurgeon). Hoje é professor do Instituto Aubrey Clark - Fortaleza/CE) e diretor do Instituto Bíblico Semear e Pastor da PIB de Aquiraz.-CE Casado com Franciane e pai de três filhos: Natanael, Heitor e Calebe.