Preservando a Santidade na Igreja

Não me lembro a última vez em que vi um cristão “fazendo propaganda” de uma igreja ressaltando sua pureza. Geralmente o que vejo são pessoas (incluindo pastores) destacando suas igrejas pelo número grande de visitantes, membros, o crescimento da estrutura física, as programações, o potencial intelectual do pastor. Mas, a moral, a santidade, a pureza, sinceramente não me lembro.

Evidentemente não sou contra nenhuma dessas qualidades. Certamente o crescimento físico de uma igreja pode ser resultado do exercício da comunhão e/ou da fidelidade fianceira. O que me incomoda é supremacia de algumas virtudes e/ou qualidades em detrimento dos elementos mais essenciais como a moral e a santidade, por exemplo.

O texto de 1 Coríntios 5 deixa claro que uma igreja madura é uma igreja que preza pela moral e a santidade. O primeiro verso nos revela o quadro do que estava acontecendo naquela igreja.

1. No geral, o capítulo trata da pureza na igreja. Nos primeiros versos (vv. 1-5)o assunto específico é a “imoralidade” na igreja. Algumas versões como a RC, a ECA., a TB traduzem como “fornicação”. Fornicar é o mesmo que ter relações sexuais com alguém sem está dentro do compromisso de casamento. Na verdade, a palavra usada por Paulo tem natureza mais ampla e se refere a todo tipo de pecado sexual.

2. Era algo conhecido do grande público. Aqui poderíamos muito bem traduzir “se ouve inteiramente (absolutamente)”. Não se trata de uma conversa superficial. É algo certo.

3. A imoralidade sexual na igreja de Corinto era tal que resultou em um caso específico aqui citado: um rapaz estava vivendo como marido da mulher do seu próprio pai. Aqui é interessante observar a relação entre a "imoralidade sexual" (prostitiuição) e o caso específico do rapaz. No orginal temos uma construção sintática revelando que o caso do rapaz é "resultado" de um quadro maior de prostituição. O caso aqui citado, portanto, não seria um episódio isolado e/ou único, mas o resultado de um processo. A TB parece ter entendido assim ao traduzir “de modo que” ou invés de "isto é". Entender esse caso como o resultado de outros é importante porque nos desperta para sua causa: o descaso para com o pureza na igreja. Além disso, revela porque a igreja estava tão insensível quanto a um pecado tão chocante mesmo entre os incrédulos. A indiferença quanto a pureza e santidade gerou a insensibilidade.

4. Apesar de no primeiro verso Paulo está falando de pecados sexuais, ele deixa claro em todo o parágrafo que seu foco não se limita a essa questão. Posteriormente ele condena os roubadores, idólatras, maldizentes etc. (vv. 10-11).

Que ATITUDE tomar?

Primeiramente Paulo nos alerta para a atitude a ser evitada: a INDIFERENÇA. A palavra usada para “lamentar” aqui é a mesma utilizada para “chorar” diante da morte de alguém. “Vocês deveriam estar lamentando, chorando, diante de tamanho acontecimento”, diz Paulo. Mas parece que o problema nem sequer existia para aqueles irmãos. A apatia com outros casos gerou a insensibilidade para com casos que são graves até mesmo entre os ímpios.

Depois de nos mostrar a atitude a ser evitada, Paulo revela a atitude esperada diante do quadro de imoralidade: EXPULSÃO. Paulo, em sua autoridade apostólica, diz claramente que já sentenciou: “entregue a Satanás”. A decisão deveria ser aplicada "imediatamente", porém, não "arbitrariamente". Os passos ensinados pelo Senhor Jesus (Mt. 18) devem ser pressupostos no texto. Os passos estão "sugeridos" no objetivo maior da expulsão - a salvação. Um desses passos é destacado no texto: a reunião dos irmãos. A decisão quanto a exclusão, portanto, deveria ser da igreja.

O objetivo da expulsão é a “destruição da carne” e “a salvação”.Há discussão sobre o que vem a ser a “destruição da carne”. A morte? A Natureza pecaminosa? Algumas considerações nos impelem a negar a primeira possibilidade:

1) Gramaticalmente o objetivo real (e final) de Paulo na oração é a salvação do pecador e não a "destruição da carne". Esse é o real propósito na atitude de expulsão - a salvação. A sentença anterior (“para a destruição da carne”) descreve o "processo curativo" esperado. Explico: Na ARA temos a expulsão ("entregue a Satanás") seguida "aparentemente" de dois objetivos: a) A destruição na carne e b) Salvação. A preposição grega traduzida como "para" pode expressar "resultado antecipado" não somente propósito (cf. BAGD). O propósito seria a salvação. Essa salvação passaria pela "destruição na carne", chamado aqui de "processo curativo" porque leva à salvação. A morte, pois, torna-se estranha, pois como a morte seria um "processo curativo" até chegar a salvação? Além disso...

2) Paulo não prevê uma morte imediata como resultado da expulsão, pois aconselha aos irmaos a não comer (exercer comunhão) com ele.

3) Há um contraste "paulino" entre “carne” e “espírito”. Geralmente em Paulo “carne” e “espírito” faz referência à pessoa como um todo vista por ângulos diferentes. “Espírito” faz referência à pessoa como um todo direcionado a Deus. “Carne” à pessoa como um todo longe de Deus. A palavra “destruição” parece ser metafórica como “crucificação” em Gl. 5:24.

A “salvação” aqui claramente se refere a salvação eterna. Observe que Paulo liga essa salvação ao “dia do Senhor”. Assim, o verdadeiro objetivo em colocar uma pessoa para fora da igreja é a sua salvação. É esperado que nesse processo de retirada ela "destrua a carne", ou seja, volte-se para Deus. É importante entender que esse é o objetivo, não se quer dizer que isso necessariamente vai acontecer. Nem todos os "excomungados" voltarão. Mas esse deve ser nosso desejo e oração.

Quanto a frase “entregue a “Satanás”, essa foi utilizada por Paulo em outros documentos (2 Timóteo). Ao que parece, trata-se de uma terminologia usada para todos os que são retirados do convívio da igreja.

Continua…

Perfil

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Rômulo Monteiro alcançou seu bacharel em Teologia (Seminário Batista do Cariri – Crato/CE) em 2001; concluiu seu mestrado em Estudos Bíblicos Exegéticos no Novo Testamento (Centro de Pós-graduação Andrew Jumper – São Paulo/SP) em 2014. De 2003 a 2015 ministrou várias disciplinas como grego bíblico e teologia bíblica em três seminários (SIBIMA, Seminário Bíblico Teológico do Ceará e Escola Charles Spurgeon). Hoje é professor do Instituto Aubrey Clark - Fortaleza/CE) e diretor do Instituto Bíblico Semear e Pastor da PIB de Aquiraz.-CE Casado com Franciane e pai de três filhos: Natanael, Heitor e Calebe.