A Volta de Cristo é o grande evento esperado pelo povo de Deus. No seu
último contato com os discípulos, esses ouviram dos anjos: “Varões galileus,
por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto
ao céu virá do modo como o vistes subir”. (At. 1:11). Desde então, os
seguidores de Cristo o esperam.
Há, entretanto, muitos eventos esperados e/ou relacionados à volta prometida.
A Bíblia fala de uma Grande Tribulação, um reino milenar, ressurreições e
julgamentos. É exatamente aqui que se dá início às divergências entre os
cristãos. Os desacordos são quanto ao tempo dos eventos (presente, passado e
futuro), o encadeamento cronológico e a sua relação com a Vinda do Senhor
Jesus.
Este trabalho focalizará a relação da Tribulação com a Volta de Cristo. Como o Arrebatamento
é uma discussão entre pré-milenistas (históricos ou dispensacionalistas), o
trabalho não visa a desenvolver questões como o Milênio, seu caráter proléptico
e/ou terreno; antes, todos são temas pressupostos (versus amilenistas, pós-milenistas e preteristas). Apresentaremos as
três visões mais conhecidas: Pré-tribulacionismo
(doravante, PR.T), Mid-tribulacionismo (doravante, MD.T) e o
Pós-tribulacionismo (doravante, PO.T). Todas serão expostas e submetidas a uma análise
crítica.
2
PERSPECTIVAS.
2.1
Pré-Tribulacionismo.
Como
a própria alcunha revela, essa visão assegura que a Vinda de Cristo se dará antes da Tribulação.
Seguem
seus pressupostos gerais: 1) A Tribulação: 1.1) é um período exato de sete anos referente à Septuagésima
Semana de Daniel 9.27; 1.2) Um tempo sem igual em toda a história da humanidade
e 1.3) futuro; 2) A vinda de Cristo é iminente. Por “iminente” entenda-se que
ela deve acontecer a qualquer momento.
3) Distinção entre Israel e a Igreja[1].
A
terminologia “pré-tribulacionismo” é limitada, pois todos os representantes
dessa visão entendem que a Vinda de Cristo não somente se dará antes da Tribulação, mas antes e depois.
A
Vinda de Cristo em duas fases é a explicação dos seus defensores para a incompatibilidade entre: 1) sinais que
antecedem a Vinda, 2) a exatidão dos sete anos (fazendo da vinda de Cristo algo
possível de se calcular) e 3) a iminência.
Um
dos seus representantes apresenta a questão em forma de pergunta:
A linguagem bíblica ensina que o
Senhor pode retornar para sua igreja a qualquer
momento, ou ensina que o retorno do Senhor para sua igreja será precedido
pelo cumprimento de certos eventos previstos tais como a revelação do homem da
iniquidade, a grande tribulação e assim por diante?[2]
O
PR.T entende que a falha em não reconhecer a distinção de uma vinda iminente e outra precedida por sinais é
acusar o Espírito Santo de contradição[3]. A perspectiva
pretribulacional entende fornecer a única
explicação que soluciona a tensão
entre esses dois fatos incompatíveis (sinais e iminência). John McArthur Jr.
assegura que:
[…] esse é o único cenário [a Grande Tribulação entre duas vindas] que concilia a iminência da vinda de Cristo para os seus santos com os sinais ainda não cumpridos que sinaliza (sic) seu retorno glorioso final com os santos[4].
Tal
conclusão leva os pré-tribulacionistas a declararem firmemente: “[…] nenhum
sinal é dado à igreja”[5]. A Igreja, por
conseguinte, não é exortada a observar sinais; antes, a olhar somente para o
Senhor que virá a qualquer momento.
Assim,
a vinda de Cristo deverá acontecer em duas fases – antes e depois da
Tribulação. Na primeira fase Cristo virá para
sua Igreja nos ares e na segunda virá
com sua igreja para a terra.
O
pressuposto da iminência é construído sobre passagens que asseguram que a vinda
está próxima bem como sobre as
exortações à vigilância. A lógica é simples: Devo vigiar porque Jesus pode
voltar a qualquer momento visto estará
próximo – à porta. As passagens mais citadas são: Lucas 12.39-40; 17.26-27[6]; Filipenses 4.5; Tiago
5.8-9.
A
Vinda em duas fases não surge somente como uma explicação à aparente
contradição entre sinais, sete anos literais e iminência. As omissões e inconsistências entre passagens que descrevem a Vinda de Cristo e o
Arrebatamento também são fundamentais.
Nas
passagens que lidam com o Arrebatamento as omissões são: 1) sinais e 2) referências
à Tribulação. As inconsistências entre as descrições dos dois eventos são: 1) O
tempo da ressurreição em 1 Tessalonicenses 4 e o referido por Apocalipse 19-20.
No primeiro registro temos a ressurreição durante a descida de Cristo até as
nuvens. No segundo relato temos a descida de Cristo à terra, a morte dos seus
inimigos, a Besta e o falso profeta são lançados no lago de fogo, Satanás é
preso e somente depois temos a
ressurreição dos santos. 2) O destino dos arrebatados em João 14.3 é o céu e as passagens da segunda vinda
retratam nossa permanência na terra.
Assim,
devido a omissões e inconsistências, Mateus 24 e Apocalipse
19 descrevem a Segunda Vinda; enquanto João 14.3; 1Coríntios 15.51, 52 e 1
Tessalonicenses 4.13-18 são as passagens que descrevem o Arrebatamento[7].
O
PR.T encontra em Apocalipse 3.10 a promessa clara e direta de que a Igreja não
passará pela Tribulação. Essa é a bendita esperança do cristão – libertação da
Grande Tribulação. Não se pode ser consolado incutindo na Igreja a expectativa
de uma participação no período em que Deus derramará toda sua ira sobre a terra.
“A razão de ser da passagem em 1 Tessalonicenses [4.18] depende da vinda do
Senhor ser iminente e pré-tribulacional”[8].
O
PR.T assegura que a natureza da proteção em Apocalipse 3.10 é indicada pela
preposição evk.
Caso João tivesse a intenção de expressar uma proteção na Tribulação, ele teria usado as preposições dia, ou evn[9]. O “guardar”, portanto, deve envolver necessariamente uma retirada física. Figuras como Noé, Ló e Raabe são
usadas como exemplos de livramento. Em todos os casos, eles foram retirados antes de Deus derramar sua
ira.
O
ministério do Detentor em 2 Tessalonicenses também reforça as crenças do PR.T.:
“[…] a indicação aqui é que, enquanto o Espírito Santo estiver habitando na igreja, que é Seu templo, esse trabalho de detenção continuará e o homem do pecado não poderá ser revelado. Apenas quando a igreja, o templo, for retirada, o ministério de detenção cessará e a iniquidade produzirá o iníquo”[10].
Diferente
das outras duas visões, o PR.T iguala
Dia do Senhor com condenação e, mais
especificamente, com a Grande Tribulação, que por sua vez é o mesmo que a Ira
de Deus. Leon Wood é claro: “O ‘dia do Senhor’ [2 Tessalonicenses 5.2] aqui
significa a Tribulação”[11].
Walvoord
entende que a expressão “Dia do Senhor” “refere-se a qualquer período especial
em que Deus intervém sobrenaturalmente, a fim de trazer juízo contra o mundo”[12]. O PR.T entende que o
Arrebatamento marcará o terminus a quo
do Dia do Senhor enquanto que o terminus
ad quem será a eternidade[13]. Todo esse longo período
é considerado como “o Dia do Senhor”.
A
relação entre o PR.T e o Dispensacionalismo é tal que faz-se necessária uma
palavra. Em primeiro lugar, pode-se chegar a conclusões pré-tribulacionistas
sem os pressupostos dispensacionalistas. Por outro lado, algumas conclusões
pré-tribulacionistas são resguardadas por pressupostos dispensacionalistas. A
distinção entre Israel e a Igreja, por exemplo, ampara e favorece a ausência da
Igreja na Tribulação. A mais nova vertente dentro do Dispensacionalismo, o
Dispensacionalismo Progressivo, não considera a vinda em duas fases como
indispensável ao Dispensacionalismo.
2.2
Mid-tribulacionismo.
Como
o próprio nome sugere, essa visão assegura que a Igreja passará por metade da Septuagésima
Semana de Daniel. Compartilha com o PO.T a crença de que o público de Mateus 24
(e paralelos) é composto dos santos no sentido usual da Igreja de Cristo, bem
como a distinção entre Ira de Deus e Tribulação. Com o PR.T partilha a ideia de
uma vinda em duas fases, bem como a exatidão cronológica e o caráter proléptico
dos sete anos.
Erickson
apresenta os dois argumentos usados pelo MD.T para reforçar que o alvo de
Mateus 24 (e paralelos) é a Igreja e não os judeus somente:
1. Os Evangelhos segundo Mateus e
Marcos foram escritos algum tempo depois de as epístolas terem sido escritas e
circuladas. O vocabulário de Paulo e o significado que dava às palavras seriam,
portanto, familiares aos crentes daqueles dias. É razoável esperar que, se o
Senhor tivesse desejado dizer por “escolhidos” algo diferente daquilo que Paulo
queria dizer com a palavra em passagens como Romanos 8.33, então Mateus e
Marcos teriam dado alguma indicação do fato, para evitar confusão […].
2. [Jesus] Tinha o hábito de
acoplar referências aos apóstolos e à igreja inteira, como na grande comissão
(Mt 28.18-20), na oração sacerdotal (Jo 17, especialmente o versículo 20) […] quando
Jesus anunciou, em Mateus 24.15ss, a destruição vindoura de Jerusalém, falou
primeiramente na segunda pessoa (“quando, pois, virdes”) e depois, na terceira pessoa. Referiu-se aos judeus como
“eles” e não como “vós”[14].
Tanto
o MD.T quanto o PO.T entendem que a Ira do Senhor é distinta da Tribulação, mas ainda a ela relacionada. Na Tribulação
temos a ira de Satanás, do Homem da iniquidade e do Anticristo contra o povo de
Deus, enquanto que a Ira de Deus é o aspecto condenatório do Dia do Senhor cujo terminus a quo se dará no meio
da Tribulação.
As
razões para se entender que o Arrebatamento deve acontecer no meio da Tribulação são as seguintes: 1) A
quebra do pacto pelo Anticristo se dará no meio da Septuagésima Semana (Dn.
9.27) iniciando o derramar da Ira de Deus da qual seu povo não tem parte; 2) O
Arrebatamento acontece no tocar da última trombeta (Ap. 11.15). Ela marca o
início da Ira de Deus, do galardão para os mortos justos (Ap. 11.18) e se dará
no meio da Tribulação.
Erickson
nos esclarece que a terminologia “mesotribulacionista” ou “mid-tribulacionistas”
não tem origem em seus defensores. Eles costumam se auto intitular pré-tribulacionistas
ou pós-tribulacionistas[15].
2.3
Pós-Tribulacionismo.
O
aspecto principal dessa visão é que a Igreja não será retirada do mundo antes
da Tribulação. Diferente das visões apresentadas acima, seus adeptos não estão
certos quanto ao tempo da Tribulação.
Alguns entendem que os sete anos da Septuagésima Semana, apesar de, a princípio serem literais, serão “abreviados”
(Mt. 24.22); outros creem que a Tribulação é uma marca de toda a história da
Igreja, não limitada, portanto, aos sete anos de Daniel. Essa última conclusão
pressupõe que a Septuagésima Semana de Daniel já foi cumprida.
Como
o MD.T, o PO.T defende uma distinção entre a Ira de Deus e a Tribulação. Tribulação
é a ira de Satanás, do Anticristo e dos ímpios contra os santos, enquanto que a
Ira de Deus é o aspecto condenatório do Dia do Senhor. Quanto ao tempo em que
se dará esse Dia, Gundry assegura que “[…] não cobre toda a septuagésima semana,
provavelmente nem mesmo sua última parte, mas concentra-se no fim”[16].
Três
textos são usados para se entender a relação entre a Tribulação e o Dia do
Senhor. São eles: 1 Tessalonicenses 5.2; 2 Tessalonicenses 2.2 e Atos 2.20.
Em
2 Tessalonicenses Paulo distingue o
Dia do Senhor de eventos relacionados à Grande Tribulação. Ele assegura ser
necessário que “primeiro
venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição”
(2Ts. 2:3). Não se afirma que os principais eventos do Dia do Senhor ainda
não haviam acontecido[17],
mas que eram necessárias algumas
coisas acontecerem antes (prw/ton no
v.3) do Dia do Senhor.
Atos 2.20 afasta o Dia do
Senhor para o término da Tribulação
ao afirmar que antes (pri,n) do
Dia do Senhor o “sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue”. Sabemos que
a vinda de Cristo é antecipada
exatamente por esses sinais, que por sua vez, seguem a Tribulação. Mateus 24.29 diz: “Logo em seguida (meta,) à
tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as
estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados”.
Em Atos, o Dia do Senhor segue os ‘mesmos sinais que antecedem imediatamente a Vinda do Senhor em
Mateus 24.30. Em 2 Tessalonicenses 2, o Dia do Senhor é uma referência ao nosso
encontro com Ele e à Sua vinda (2.1). Assim, o terminus a quo do Dia do Senhor é a própria Vinda de Cristo
postribulacional para lamento dos ímpios e salvação e ajuntamento dos santos. A
sequência cronológica, portanto, é a seguinte: Tribulação, sinais celestiais e
o Dia do Senhor. Assim, conclui-se que a Tribulação não é o mesmo que o Dia do
Senhor.
O
PO.T entende não haver qualquer interlúdio entre o Arrebatamento e a Segunda
Vinda. Diferente das outras visões, em que a Vinda de Cristo acontece em duas
etapas permitindo morte entre elas e exigindo três ressurreições, o PO.T preza
por duas ressurreições como descritas em Apocalipse 20.4-6.
Um
texto em especial é usado tanto pelo PO.T quanto pelo PR.T: Apocalipse 3.10. Todos
concordam que o texto promete proteção de Deus para seu povo no tocante à Tribulação.
O desacordo fica por conta da natureza dessa proteção. A preposição evk é parte fundamental em
toda a discussão.
A
argumentação PO.T é a de que a semântica “posição fora” (defendida pelo PR.T) não
se sustenta. Entendem que o texto deve ser apreendido não somente por um viés
gramatical, mas contextual, envolvendo a declaração à luz de todo o livro. Argumentam que em todo livro de Apocalipse
os “santos”, diferente dos que “habitam sobre a terra”, são guardados da
sedução (tentação) e do engano (plana,w) de adorar a besta (13.8, 12, 14; 17.8) e não são
atormentados pelas duas testemunhas (11.10). Deus, pois, guarda os seus da
sedução e não da exposição à sedução. A promessa de Apocalipse 3.10, pois,
não envolve retirada física do sofrimento. Não se é guardado da tentação estando fora dela, mas nela.
O
conceito de iminência não segue os termos do PR.T, com se Cristo viesse a qualquer momento, mas entende-se que
tal evento está pendente. Sobre a
relação entre os sinais e a iminência da Volta de Cristo, o PO.T vê a alegada tensão
como aparente e que ela está diretamente ligada ao entendimento do propósito e natureza dos sinais e da vigilância exigida dos santos.
O
PO.T reconhece que, caso a Volta de Cristo se dê a qualquer momento [definição pretribulacional de iminência],
teremos sim, uma tensão que poderá nos levar a contradição, fazendo da Vinda em duas fases uma solução, senão exigida, pelo
menos provável. Por outro lado, revela que a tensão não é fruto de um confronto
entre textos de contextos distintos como se tivéssemos, de um lado, textos que
trazem sinais e, de outro, textos que enfatizam a ignorância da Vinda do Senhor.
O Sermão Escatológico de Cristo apresenta tanto a iminência quanto os sinais
unidos em um mesmo contexto. Contexto
este em que o próprio Senhor Jesus diz “ninguém conhece o dia nem a hora”. “Todos os intérpretes, quer creiam que o
discurso é dirigido à Igreja ou a Israel, enfrentam a dificuldade de explicar
como um evento apresentado por sinais
específicos pode ainda ser um dos quais se diz: ‘ninguém sabe o dia e a
hora’”[18].
A
relação entre Jesus e Paulo também é um elemento importante para o PO.T. Diferente
da afirmação PR.T de que o Arrebatamento é uma novidade dentro do progresso da revelação e que no Sermão
Escatológico de Cristo temos somente a segunda fase da Segunda Vinda, o PO.T
assegura que as similaridades entre Paulo e o Senhor Jesus sugerem que não há novidade no registro paulino.
Primeiro,
a declaração de Paulo “ainda vos declaramos, por palavra do Senhor” (v.14)
nos faz pensar que ele é dependente
do ensino de Cristo em suas argumentações. Segundo, temos os elementos comuns
entre os dois[19]:
som da trombeta (1Ts. 4.16 comp. Mt. 24.31), presença dos anjos (1Ts. 4.16;
2Ts. 1.7 comp. Mt. 24.31), a vinda do Senhor Jesus Cristo do céu (1Ts. 4.16; 2Ts. 1.7 comp. Mt.
24.30), as nuvens (1Ts. 4.17 comp. Mt. 24.30), encontro (avpa,nthsij) com o Senhor (1Ts
4.17; Mt. 25.6), a ignorância dos “tempos e horas” (1Ts. 5.1) e “daquela hora”
(24.36) com a locução preposicional peri, de,, a vinda como um ladrão (1Ts. 5.2 comp. Mt. 24.43),
a repentina destruição (1Ts. 5.3 comp. com os dias de Noé (Mt. 24.39), a expressão
princípio das dores (Mt. 24.8) e as dores de uma mulher grávida (1Ts. 5.3), a
ordem de vigiar (1Ts. 5.6, 7 comp. Mt. 24.42), o perigo de ser encontrado
dormindo (kaqeu,dw
– 1Ts. 5.6 comp. Mc. 13.36), ajuntamento dos santos (1Ts. 4.13-18 comp. Mt. 24.31).
3
ANÁLISE CRÍTICA
3.1
Pré-tribulacionismo.
3.1.1
Pontos
Positivos.
Com
seu conceito de iminência, o PR.T conseguiu resgatar o ethos da igreja do primeiro século. Além disso, a escatologia é
sempre viva nos círculos pré-tribulacionistas. Isso, por sua vez, impulsiona uma
busca constante pelos referentes na simbologia apocalíptica, bem com gera uma
insatisfação por respostas gerais.
3.1.2
Pontos Negativos.
Os
pontos negativos que seguem sobrepujam em volume os das outras duas visões. São
três as razões para tal discrepância: 1) O PR.T tem muito mais material sobre a
temática do que as outras visões. Isso se dá porque os círculos eclesiásticos
que adotam essa perspectiva entendem que o PR.T é o mesmo que ortodoxia. Isso
acaba gerando mais material expositivo e apologético. 2) O PR.T busca resposta
para todos os detalhes expondo-se muito mais às especulações e críticas. 3) Depois
do advento do PR.T[20], parte da exposição PO.T
se dá por meio da refutação do PR.T.
3.1.2.1
Fundamentação
Obscura.
A
identidade do “detentor” de 2 Tessalonicenses 2 é extremamente obscura. Sabemos
que algo ou alguém impede o exercício da iniquidade. Porém, sua identidade não
pode servir de fundamento para nenhuma conclusão sobre as últimas coisas. A
linguagem usada por Paulo é clara somente para aos leitores primários; para
nós, contudo, é enigmática e concisa o suficiente para somente especularmos.
Ainda
pensando em implicações, é precipitado afirmar que a Igreja não é encontrada na terra em Apocalipse. Se o nome
“igreja” não aparece no registro da Tribulação, o mesmo pode ser dito sobre o
céu. A afirmação categórica de que os 24 anciãos representam a Igreja está
longe de ser irrefutável e decisiva.
Sobre
Apocalipse 3.10, passagens equivalentes revelam que uma retirada física ou espacial não se sustenta. Em João 12.27 temos sw,zw + evk w[ra. Aqui a semelhança não
somente fica por conta da relação verbo e preposição, mas o objeto da
preposição é exatamente o mesmo – w[ra. O PR.T entende que a promessa é a preservação fora de um período de tempo”[21].Contudo, a ênfase cai sobre a experiência
no tempo, não o período como tal. No pedido “Pai, salve-me dessa hora”, Jesus não
poderia estar orando pela libertação de um período de tempo”[22]; antes, dos eventos dentro do período de tempo. Além disso, o
sentido de thre,w deveria
ser mudado de “proteção” para “moção”.
Por
último, temos João 17.15. Feinberg declara sua significância ao reconhecer que
em ambos os textos (Jo. 17.15 e Ap. 3.10) temos palavras da boca de Jesus e
vindas da pena de João[23]. Para ele a situação em
17.15b (thre,w
+ evk) é diferente da
encontrada em 17.5.a (ai;rew + evk).
Na última, os discípulos estão no mundo
enquanto que na primeira eles não estão no
maligno. Daí o fato de que não há a necessidade de moção, mas ainda mantém a necessidade de mantê-los fora do objeto da preposição (o Maligno).
Tal separação é corroborada pela
visão joanina de separação entre o cristão e o reino de Satanás e por passagens
como Colossenses 1.13. Moo responde com uma pergunta: “Em que sentido é
significativo falar em estar numa posição fora com respeito a um ser pessoal?”[24]. Ele ainda ressalta que
“Feinberg está aplicando uma frase espacial
a um contexto que não pode ser entendido espacialmente”[25].
A
longa citação de Moo esclarece bem a questão envolvendo a preposição:
[…] ao checar as mais de
novecentas ocorrências de evk no Novo Testamento, não
encontraria nenhuma que provavelmente tem esse significado [posição fora]. De
acordo com essa conclusão está o fato de que nenhum dos maiores léxicos do Novo
Testamento apresenta “posição fora” como definição de evk.
O que alguns dos exemplos citados por Townsend e Feinberg mostram é que evk
pode significar separação de algo com quem nunca teve um envolvimento anterior.
[…] em cada uma dessas[26]
o objeto de evk denota a coisa ou pessoa da qual alguém é protegido, não a esfera
fora da qual se é protegido[27].
O
elemento contextual não favorece o PR.T. Apocalipse 3 revela que essa
“tentação” focalizará “os que habitam sobre a terra” (v.11). Há uma distinção
entre o grupo dos guardados e o dos não guardados. Os que habitam sobre a terra
não serão guardados. A ira de Deus é seletiva
no livro de Apocalipse. Ela é direcionada somente
para “os que habitam sobre a terra”. Além disso, é interessante observar que a
expressão “os que habitam sobre a terra” está ligada à sedução.
3.1.2.2
Conceito Equivocado
de Iminência.
Afirmar
que o Dia do Senhor vem como um ladrão não é o mesmo que assegurar que ele vem
sem aviso prévio[28].
Alguns entendendo que o Dia do Senhor vem quando as pessoas estiverem em “paz e
segurança” (1Ts. 5.3), supõem que sua Vinda coincide com o início a Tribulação – sem aviso prévio.
Há
duas razões para rejeição de tal conclusão: 1) A própria natureza do Dia do
Senhor. Esse dia é marcado por sinais
que o antecedem (cf. At. 2.20; 2 Ts. 2). 2) Gundry[29] nos alerta que Paulo não
está descrevendo como realmente serão
os dias, mas revela o querer e a expectativa das pessoas. Elas “andarão dizendo” como nos dias de
Jeremias: “Paz...paz” (Jr. 6.14; 8.11).
O
texto, na verdade, fala indiretamente
de sinais. O ponto é que o ser humano não vai dar atenção, pelo contrário, pronunciará
a paz a despeito dos sinais. O Senhor
virá como um ladrão devido à cegueira dos que vivem nas trevas. Nas palavras de
Paulo: “não estais em trevas, para que esse Dia como ladrão
vos apanhe de surpresa”.
Consideremos
as palavras gregas usadas para espera/expectativa e proximidade de Cristo. Nenhuma delas exige iminência nos termos do PR.T.
1.
prosde,comai, “esperar” (Lc. 12.36; Tt. 2.13). A mesma palavra é
usada para descrever as ressurreições dos justos e injustos em Atos 24.15 com
um intervalo de um milênio entre elas (Ap. 20).
2.
avpekde,comai, “aguardar”, “esperar ansiosamente” (1Co. 1.7). “A
palavra não pode implicar iminência em Romanos 8.19, porque lá Paulo escreve
que a criação física espera ardentemente a revelação dos filhos de Deus”[30]. Pedro usa o mesmo
vocábulo para se referir à longanimidade de Deus no contexto do dilúvio (1Pe.
3.20). Claramente o dilúvio não foi iminente. A arca deveria ser construída
antes.
3.
evkde,comai, “aguardar”, “esperar”. Em Tiago 5.7 a analogia do
agricultor, usada pelo irmão do Senhor, que espera com paciência (makroqume,w) descarta a
ideia de uma vinda a qualquer momento.
Nas palavras de Gundry, “Dificilmente podemos encontrar um uso tão anti-iminente”[31].
4.
prosdoka,w, “esperar”(Mt. 24.50; Lc. 12.46). É a mesma palavra
usada por Pedro em sua segunda carta para espera dos novos céus e nova terra
(3.12).
5.
nh,fw,
“ser sóbrio”, “livre de excesso”, “domínio próprio”(1Ts. 5.6, 8; 1Pe. 1.13;
4.7). Não é o mesmo que vigiar, mas ter um caráter
e uma mente sóbria.
6.
evggu,j, “próximo”, seus cognatos e a expressão “está à
porta”. Em Filipenses 4.5 a expressão “o Senhor está próximo” pode se referir à
proximidade de Deus enquanto Seu cuidado providencial. Caso tenhamos uma
referência à Segunda Vinda, a ausência dos sinais se dá simplesmente porque não
é o propósito de Paulo apresentar detalhes escatológicos. Em Mateus 24.33 e
Marcos 13.29 a proximidade se dá depois
dos sinais referidos pelo Senhor. evggu,j é usada para descrever a proximidade das festas
judaicas (Jo. 2.13; 6.4; 7.2; 11.55) e sua forma verbal se relaciona ao fim de
todas as coisas (1Pe. 4.7). A proximidade da vinda de Cristo, pois, não implica
em iminência.
São
duas as palavras usadas para admoestações à vigilância: gregore,w e avgrupne,w (Mc. 13.33; Lc.
21.36). A última significa “sem sono”, “acordado”, “vigilante” e é usada para
vigilância espiritual de forma geral (Ef. 6.18). O mandamento em Lucas 21 é “acordar”
em contraste com o “dormir”. Em Marcos o mandamento está em paralelo com a
oração e em Lucas a oração está subordinada (particípio) ao orar. Os que dormem
espiritualmente (não vigiam), portanto, não escaparão do julgamento associado à
vinda do Senhor.
grhgore,w significa “estar acordado”. Como com avgrupne,w, ela é usada para o
estado de alerta da vida espiritual (At. 20.31). Em 1 Coríntios 16.31 o “vigiar”
está em paralelo com “permanecer firme na fé”. Em Colossenses 4.2 é na oração e
em ação de graça que vigio. Em 1 Pedro 5.8,9 está em paralelo com “permanecer
firme”. É usada por Cristo, no Getsêmani, ligada à oração e ao permanecer literalmente acordado (Mt. 26.38, 40,
41). Em Apocalipse 3.2, 3 não temos uma referência à Volta do Senhor, mas sua
visitação com julgamento. Novamente o alerta é contra a letargia espiritual.
Relacionada
à volta do Senhor temos nove ocorrências. Dessas, uma é uma exortação paulina
(1Ts. 5.3-5), e o restante se encontra nos ensinos do Senhor. Quanto a 1
Tessalonicenses 5, a questão não é o Arrebatamento, mas o Dia do Senhor. O
contexto deixa claro que a Vinda não é percebida,
não por ausência de sinais, mas por cegueira espiritual. Estar vigilante é
estar espiritualmente acordado em contraste com o mundo em trevas e sono. Além
disso, segundo 2 Tessalonicenses 2, alguns sinais
precedem o Dia do Senhor. Isso faz com que vigilância não implique
necessariamente numa Vinda iminente.
Se há iminência aqui (1Ts. 5.3-5) é para os que vivem nas trevas – os que não
esperam.
Sobre
Apocalipse 16.15 Ladd nos ensina que “o que quer que isso signifique, não pode
envolver um retorno de Cristo inesperado, secreto e a qualquer momento”[32] visto que o contexto é o
derramar da ira de Deus no final da
Tribulação.
Nos
ensinos do Senhor a palavra é usada duas vezes em Lucas 12. 37, 39 (paralelo
Mt. 24.43ss) e cinco vezes no Sermão das Oliveiras. Aqui a palavra é associada
com a incerteza do tempo da Vinda do
Senhor. Ladd alerta para o fato de que vistas fora do contexto, essas passagens
podem dar a impressão de uma vinda sem sinais que indicam sua proximidade.
Porém, qualquer pré-tribulacionista reconhece que a Volta do Senhor no Sermão Escatológico
é postribulacional (Mt. 24. 27-28). Os versos 29-31 ampliam a descrição do v.27
e o restante são passagens que trazem aplicações espirituais. Agora, se Cristo
nos chama a vigiar uma vinda secreta, devemos concluir que Ele nos exortou a
vigiar um evento do qual ele mesmo sequer faz referência. Mesmo que os
pré-tribulacionistas aleguem que essas palavras são direcionadas aos judeus, o
problema continua. Ladd explica:
Se os pré-tribulacionistas podem
aplicar a qualquer pessoa o mandamento de vigiar no meio da Tribulação, cujo
fim pode ser aproximadamente conhecido, então eles não podem questionar a aplicação
dessas mesmas exortações à Igreja na base
de que é impossível ao crente vigiar um evento cujo tempo pode ser
aproximadamente conhecido[33].
“É por causa da incerteza do tempo, não da sua iminência, que nós devemos vigiar”[34]. O ponto não é que Cristo pode vir a qualquer momento, mas que eu não sei exatamente quando se dará, mesmo conhecendo os sinais que o antecedem.
Lucas
12.22ss nos alerta para o fato de que “vigiar” envolve conduta, comportamento e
serviço. “Vigiar” envolve ser encontrado “fazendo” (v.43). A demora do Senhor
revela o caráter do servo. “Somos exortados, em vista da incerteza do tempo do
fim, a vigiar. “Vigiar” não significa “olhar para” um evento, significa alerta
espiritual e moral”[35].
As
parábolas que decorrem do ensino de sua volta nos advertem para uma demora (e.g., virgens prudentes e
imprudentes [Mt. 25.5]; talentos [Mt. 25.19] e dos servos [Mt. 24.45-51]).
Soma-se a isso o fato de que alguns eventos preditos pelo Senhor deveriam
acontecer: (1) João revela que Pedro deveria envelhecer (Jo. 21.18); (2) Os
discípulos deveriam ser testemunhas tanto em Jerusalém como em toda Judéia e
Samaria e os confins da terra (At. 1.8). (3) A pregação do Evangelho em todo
mundo (Mt. 24.14)[36]. (4) A destruição de
Jerusalém (Lc. 21.20-24).
Em
resposta a isso, alguns[37] têm assegurado que agora que todas essas predições foram
cumpridas e que todo impedimento para a iminência ficou no primeiro século,
podemos dizer, pois, hoje, que a
volta de Cristo é iminente. Tal consideração não é suficiente, “pois o objetivo
é determinar o que as declarações acerca da proximidade da parusia teriam
significado para os que primeiro a
ouviram”[38].
A
perspectiva pretribulacional deve tomar os sinais e orientações sobre a
identidade do Iníquo simplesmente como “dados acadêmicos” já que os leitores
não poderiam, de forma alguma, testemunhar a apostasia e o homem da iniquidade
por serem eventos marcantes da Grande Tribulação.
3.1.2.3
Distinção Rígida
entre Israel e a Igreja.
A
distinção rígida entre Israel e Igreja não somente nos deixa sem muitas
respostas como traz muitas complicações. Primeiro, na relação
promessa-cumprimento. A promessa do derramar do Espírito foi dada originalmente
a Israel; no entanto, cumprida na Igreja. O mesmo se pode dizer sobre a Nova Aliança.
Segundo,
quanto à iminência. Segundo o PR.T, a iminência da Volta de Cristo é
direcionada à Igreja. Porém, muitas referências à iminência se encontram no
sermão profético do Senhor Jesus que, para os pré-tribulacionistas, é
direcionada exclusivamente aos judeus.
Terceiro,
a função de Apocalipse. Por que Apocalipse é um testemunho para a igreja
(22.16) se ela não está envolvida nisso?
3.1.2.4
Omissões.
Acusar
um texto de omissão pressupõe que
sempre que um determinado tópico surgir, todos os elementos envolvidos devem estar presentes. E é sabido que
todo pré-tribulacionista não negaria que nem toda referencia à Vinda de Cristo
revela toda a complexidade do evento. Sobre 1 Tessalonicenses 4-5, Ladd
argumenta nesses termos: “O único aspecto da parusia que Paulo tem em mente é a
sua relação com os crentes. Nessa passagem ele não tem nada a dizer sobre sua
relação com o mundo”[39]. Se não temos nada acerca
do que antecede a vinda de Cristo
(sinais e tribulação) também “nada é dito acerca do que acontece depois do encontro”[40].
Ainda
pensando nas omissões, há várias passagens no Novo Testamento em que temos uma
referência à ressurreição (Rm. 6.5; 8.11; 2Tm. 2.18; At. 17.18; 24.15; Hb. 6.2;
11.35) porém, sem uma indicação de tempo.
Outras relacionam a ressurreição com a Vinda do Senhor (1Co. 15.23; 1Ts. 4.16),
mas sem qualquer palavra sobre sua relação com a Grande Tribulação – seja antecipando-a
ou seguindo-a. Assim, a acusação da ausência de sinais ou Tribulação em 1
Tessalonicenses 4-5 poderia ser explicada pela causa da escrita: explicar a posição dos mortos em Cristo no Advento
do Senhor.
Quanto
à ausência da tribulação em 1Tessalonicenses 4, Paulo não precisava falar, pois
os Tessalonicenses estavam em tribulação
(1.7; 3.7). “A persistente tendência dos pré-tribulacionistas a confinar a
tribulação somente ao período climático de sete anos no fim da história
distorce seriamente a perspectiva do Novo Testamento”[41]. No sermão escatológico
de Cristo a tribulação é a marca de toda
a história da Igreja. A distinção entre tribulação e Grande Tribulação está
no alcance mundial e na figura do Anticristo.
3.1.2.5
As Inconsistências.
A
primeira inconsistência só faz sentido se os eventos descritos em Apocalipse
19-20 indicarem uma clara progressão temporal – o que não é o caso. A prisão
de Satanás (v.1) e a ressurreição (v.4) são introduzidas por um genérico kai,. Ambos os eventos são
marcas do início de uma era de mil
anos. Portanto, João não está preocupado em uma sequência. É mais razoável pensar que os eventos de Apocalipse
19.11-21 são paralelos a 20.1-6.
Além
disso, 1 Tessalonicenses 4 nos revela que a Vinda de Cristo é marcada pela
ressurreição dos santos. Segundo Ladd[42], Apocalipse 20.1-4 é a única passagem em que encontramos uma
clara indicação do tempo da
ressurreição. E ela se dá no final da
Tribulação, na Vinda de Cristo em glória. Essa é a primeira de duas
ressurreições. O PR.T deve assumir, portanto, três ressurreições: 1) no Arrebatamento pretribulacional, 2) Na Segunda
Vinda postribulacional e 3) No final do milênio.
A
segunda acusação é acerca do destino dos arrebatados e o destino dos que
participam da Segunda Vinda. Os primeiros para o céu e os demais ficam na
terra. A palavra “encontro” (v.17) aparece três vezes no Novo Testamento:
Mateus 25.2 e Atos 28.15 e em ambos os casos trata-se de um encontro que segue
um retorno. No entanto, o texto usado
para dizer que o destino permanente
dos arrebatados é o céu com Cristo é João 14.3. Enquanto 1 Tessalonicenses 4
revela a subida, João revela a permanência no céu.
Em
primeiro lugar, a palavra “céu” nem sequer aparece no texto de João. A ênfase do
texto está em ficar para sempre com o Senhor. Caso a ênfase esteja no “céu” e
não na “presença de Cristo”, como explicar a permanência no céu somente por
sete anos? Neste caso, a expressão “para sempre” perderia todo seu peso.
3.2
Mid-tribulacionimo.
3.2.1
Pontos Positivos.
Em
primeiro lugar, a distinção entre
Tribulação e Dia do Senhor é bem fundamentada textualmente. Segundo, o
reconhecimento da Igreja como participante da Tribulação encontra menos
dificuldades com o texto bíblico, especificamente o Sermão Escatológico de
Cristo.
3.2.2
Pontos Negativos.
Em
primeiro lugar, uma vinda em duas fases não é clara nas Escrituras. 2
Tessalonicenses 2 alista dois eventos que antecedem a Vinda de Cristo: a
apostasia e o homem da iniquidade. É de grande importância que tais eventos são
marcantes na última metade da Tribulação.
O MD.T tem dificuldades aqui visto que, segundo sua visão, a Igreja é poupada
no meio da tribulação. Se
os eventos alistados por Paulo aos Tessalonicenses, bem como tudo revelado pelo
apóstolo João no livro de Apocalipse, não poderiam ser observados, seriam informações somente de “interesse acadêmico”[43], o
que não é o caso.
3.3
Pós-Tribulacionismo.
3.3.1
Pontos
Positivos.
Erickson
sintetiza bem a virtude do PO.T: “As interpretações pós-tribulacionistas das
passagens chaves parecem se encaixar bem no sentido natural dessas passagens”[44]. Ou seja, o PO.T tem como
virtude, a exegese. Seguem alguns exemplos:
3.3.1.1
Sinais e
Iminência
A
questão aqui é: os sinais não tornariam a vinda de Cristo previsível contrastando assim com as palavras do próprio Senhor que
assegurou ignorância de Sua vinda? Sinais não são antagônicos e incompatíveis
com ignorância?
Um ponto importante aqui é o tempo da Tribulação, a
chamada Septuagésima Semana de Daniel. A questão de importância maior aqui o terminus ad quem revelado em Daniel
9.24. Para alguns, isso aconteceu no primeiro século.
Para
aqueles que entendem que a Tribulação é a Septuagésima Semana ainda não
cumprida e que, portanto, devem ter exatos
sete anos; o próprio Senhor Jesus revela a resposta assegurando que os dias da Tribulação
serão “abreviados” (kolobo,w – Mt. 24.22; Mc. 13.20). Dessa forma, esse período
não pode ser calculado. Gundry sintetiza bem a relação entre os sinais, a
incerteza da vinda e a abreviação da Tribulação:
A abreviação da tribulação
habilita-nos a resolver a previsibilidade geral
e a imprevisibilidade específica sem
aniquilar as exortações à vigilância do seu contexto postribulacional e sem minimizar
a função dos eventos sinalizadores recorrendo à visão histórica com seus
caprichos. Devemos vigiar tanto porque não podemos saber exatamente quanto porque devemos estar alertas aos sinais que nos habilitam
conhecer aproximadamente.[45]
O
que fica claro no sermão é que sinais não diminuem nossa ignorância quanto à Volta
de Cristo. Isso revela que os sinais não objetivam
o conhecimento específico e exato do evento. “Sinais não enfraquecem
a expectativa, eles estimulam”[46].
3.3.1.2
Tribulação, Ira
de Deus e Dia do Senhor.
Quando
pensamos em termos de Novo Testamento, das quarenta de cinco ocorrências da
palavra qli/yij,
somente cinco podem se referir à Tribulação: Marcos 13.19, 24; Mateus 24.21, 29
e Apocalipse 7.14, sendo que Romanos 2.9 e 2Tessalonicenses 1.6 são
possibilidades. Nessas últimas, quem sofre a tribulação são os ímpios e o autor
é Deus, mas nas primeiras são os santos que sofrem por meio de Satanás, o
Anticristo e os ímpios.
Comentando
1 Tessalonicenses 1.10, Fee declara:
É interessante que a palavra
‘ira’ é usada exclusivamente no Novo Testamento para se referir ao julgamento final de Deus sobre os ímpios,
e, portanto, nunca é usado para se referir a crentes, cuja porção presente é
tribulação/sofrimento. Assim o foco aqui não está glória final dos crentes
tessalonicenses, mas na destruição final
dos seus oponentes […][47].
Mas
não é assim na Tribulação descrita no livro de Apocalipse. João revela que a
partir do romper dos selos e o tocar das trombetas Deus não visa à condenação, mas o arrependimento daqueles que são alvos de seus castigos. Não se pode, pois, entender que a Tribulação seja um
período de condenação e/ ou ira somente.
Há clara manifestação da misericórdia de Deus. Além disso, “nem todos os
eventos são iniciativas diretas de Deus”[48].
Os
julgamentos e a ira de Deus em Apocalipse são seletivos.
Todos concordam que os santos da Tribulação (seja Israel ou a Igreja) serão protegidos da ira do Senhor. Ou seja,
estarão na tribulação, mas não
sofrerão a Ira de Deus. Segundo Gundry:
“[…] uma análise […] mostra que qumo,j
atinge somente os ímpios (14.8 – A Babilônia; 14.10 – adoradores da besta; 14.19
– os exércitos no Armagedom; 15.1, 7; 16.1, 19 – os que habitam sobre a terra;
18.3 – os que se prostituíram com a Babilônia; 19.15 – os exércitos no
Armagedom) […] A ovrgh, divina cai somente sobre os
ímpios (Ap. 6.16, 17; 14.10; 16.19; 19.15)[49].
Em
Apocalipse 18.4 temos: “Ouvi outra voz do céu, dizendo: Retirai-vos dela,
povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos”.
Não
há dúvidas de que a Ira Vindoura é derramada na Tribulação, mas igualar uma com a outra é um passo que
Apocalipse não nos permite dar. A seletividade na aplicação da Ira do Senhor no
período da Tribulação, portanto, nos impede de igualar Ira e Tribulação.
Por
último, a Tribulação antecede ao Dia
do Senhor. Como vimos, o Dia do Senhor é um dia tanto de salvação quanto de
condenação. Tanto a Vinda do Senhor quanto o derramar da Sua ira se darão no
final da Tribulação. Assim, a vinda do Senhor é o aspecto salvador do Dia do
Senhor assim como a Ira, seu aspecto condenatório. Quanto ao Dia do Senhor e
sua relação com a Ira e a Tribulação, a argumentação sobre o terminus a quo do Dia do Senhor tem mais
amparo direto dos textos (cf. 2.3: 3-5§).
3.3.2
Pontos Negativos.
Primeiro,
essa escola não demonstra uma preocupação pelos detalhes bem como deixa muitas
perguntas sem resposta. Por exemplo, os que defendem a Tribulação como sendo a Septuagésima
Semana de Daniel, precisam desenvolver melhor o tempo da última semana e sua
relação com a expressão usada por Cristo sobre esses dias – “abreviados” (Mt.
24.22). Haveria Deus mudado? Primeiramente ele estabeleceu sete anos e depois “abreviou”.
Não seria uma contradição em Deus?
Por
outro lado, para aqueles que entendem que o período da Igreja é todo marcado
por tribulação, há a necessidade de explicar melhor a Septuagésima Semana de
Daniel.
Segundo,
o PO.T também luta com o Milênio (terreno e não necessariamente literal em seu
número de anos). Reconhece-se que haverá habitantes com corpos não
transformados no Milênio. Há algumas questões que são respondidas com
dificuldade: De onde vem esse grupo? Se eles irão ressuscitar no final, isso implica
em condenação, já que eles farão parte da segunda ressurreição?
4 CONCLUSÃO
Todas
as visões recém-referidas têm em comum o fato de fazer distinção entre a
Segunda Vinda e o Arrebatamento[50]. O desacordo fica por
conta da extensão do intervalo ou o propósito de cada evento. O PR.T defende
sete anos de intervalo, enquanto o MD.T assegura três anos e meio. O PO.T, por
sua vez, entende que os eventos são unitários e/ou imediatamente sequenciais por não haver interlúdio entre eles. Neste caso, a diferença fica por conta do propósito e efeitos distintos de cada evento.
Todas
as visões apresentadas acima igualmente assumem o fato de que haverá santos e eleitos na Tribulação. A discordância fica entre PR.T´s de um lado,
e PO.T e MD.T, de outro. Os primeiros entendem que esse período envolve três
classes de pessoas: A nação de Israel, o mundo gentio pagão e os santos ou
eleitos que viverão nesse período[51]. A Igreja, por sua vez,
estará completamente ausente. As palavras de Cristo em Mateus 24, portanto, são
dirigidas aos discípulos como representantes do povo judeu e não como a Igreja
de Cristo.
Sobre
a expressão “Dia do Senhor” é claro e incontestável a todos que se trata de
“uma intervenção decisiva de Deus
para julgamento e salvação”[52]. A discordância fica no terminus a quo. O PR.T iguala os sete
anos de Tribulação à Ira de Deus e, por conseguinte, ao Dia do Senhor. O MD.T
iguala aos três anos e meio finais da Tribulação e o PO.T entende que essa é
parte final da Tribulação.
Findamos
com as antológicas palavras de Rupertus Meldenius: “In necessariis unitas, in dubiis libertas, in omnibus caritas” (No
essencial, unidade, nas coisas duvidosas, liberdade, em todas as coisas, caridade). Maranata!
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Tribulation? Part 3. Bibliotheca Sacra 92.367, 1935.
[1] Uma insignificante parcela dos
pré-tribulacionistas não lança mão desse pressuposto.
[2]
RADMACHER, Earl D. The Imminent Return of
the Lord. Em WILLIS, Wesley R. MASTER, John R. Issues in Dispensationalism. Chicago: Moody Press, 1994, p. 249
[itálico nosso].
[3]
Ibid., p. 254.
[5] PENTECOST, Manual de Escatologia. São Paulo: Vida, 1999, p. 227.
[7]
WALVOORD, John F. The Blessed Hope and
the Tribulation: A Biblical and Historical Study of Postribulacionism. Grand Rapids: Zondervan, 1976, p.
50.
[8] ERICKSON, Escatologia: a polêmica em torno do milênio. São Paulo: Vida Nova,
2010, p. 174.
[9]
FEINBERG, Paul. The Case for Posttribulation
Rapture Position, em ARCHER, Gleason (ed.) Three Views on the Rapture. Grand
Rapids: Zondervan, 1984, p. 63.
[11] WOOD, Leon. A Bíblia e os Eventos Futuros. p. 97.
[12] WALVOORD, John. F. Todas as Profecias da Bíblia. São Paulo:
Vida, p. 423.
[13] Outros pré-tribulacionistas entendem
que o Dia do Senhor começa com o Arrebatamento/início da tribulação são:
PENTECOST e RYRIE, Charles. The
Bible and Tomorrow’s News. Wheaton: Victor, 1969, p. 143.
[15] ERICKSON, Millard J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010,
p. 208.
[16]
GUNDRY, Robert H. The Church and the
Tribulation: a biblical examination
of posttribulationism. Grand
Rapids: Zondervan, 1973, p. 27-8.
[17] WALVOORD, John. Todas as Profecias da Bíblia. São Paulo:
Vida, p. 427.
[18]
MOO, Douglas J. The Case for
Posttribulation Rapture Position. em ARCHER, Gleason (ed.) Three Views
on the Rapture. Grand Rapids: Zondervan, 1984, p 209. (itálico nosso).
[19] Para uma análise dos elementos
comuns confira: WATERMAN, G. Henry Waterman. The
Sources of Paul´s Teaching on the 2nd Coming of Christ in 1 and 2
Thessalonians. Journal of the Evangelical
Theological Society. 1975, v. 18.2.
[20]
LADD, The Blessed Hope: a biblical study
of the second advent and the rapture. Grand Rapids: Eerdmans, 1956.
[21]
FEINBERG, Paul. The Case for
Posttribulation Rapture Position, em ARCHER, Gleason. op. cit., p. 69.
[22]
GUNDRY, Robert H. The Church and the
Tribulation. p. 59.
[23]
FEINBERG, Paul D. op. cit., p. 67.
[24]
MOO, Douglas J. Response for
Pretribulation, em ARCHER, Gleason. op. cit. p. 94.
[25] Ibid., p. 94, 95 (itálico
nosso).
[26] Passagens paralelas citadas
acima.
[27]
MOO, Douglas J. op. cit., p. 95.
[28] Contra WALVOORD, John. Todas as Profecias da Bíblia. p. 423.
[29]
GUNDRY, Robert H. The Church and the
Tribulation. p. 92.
[30] Ibid.
[31] GUNDRY, Robert H. The Church
and the Tribulation. p. 92.
[32]
LADD, George Eldon. The Blessed Hope.
Grand Rapids: Eerdmans, 1956. Kindle edition.
[33] Ibid.
[35] Ibid.
[36]
Pré-tribulacionistas entendem que a pregação do Evangelho está dentro do
contexto da Tribulação.
[37]
RADMACHER, Earl. The Imminent Return of the Lord. Em WILLIS, Wesley R. MASTER, John
R. Issues in Dispensationalism. p.
257. WALVOORD, John. F. The Rapture
Question. Findlay: Dunham, 1957, p. 150-1.
[38]
MOO, Douglas J. The Case for
Posttribulation Rapture Position. p. 210 [itálico nosso].
[39]
LADD, George Eldon. The Blessed Hope.
[40]
Ibid.
[41]
MOO, Douglas J. The Case for
Posttribulation Rapture Position. p. 99.
[43] LADD, George Eldon. The
Blessed Hope. Grand Rapids: Eerdmans, 1956.
[44]
ERICKSON, Millard J. Escatologia. p.
197.
[45]
GUNDRY, The Church and the Tribulation.
p. 42 (itálico nosso).
[46]
Ibid., p. 43
[47] FEE, Gordon. The First and Second Letters to the Thessalonians. Grand Rapids: Eerdmans,
2009, (NICNT), p. 50. [itálico nosso]
[48]
MOO, Douglas J. Response for
Pretribulation. p. 88.
[49]
GUNDRY, Robert H. The Church and the
Tribulation. p. 48.
[50] Pós-tribulacionistas não
costumam empregar o termo “arrebatamento”.
[51] ERICKSON, Millard J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010,
p. 156.
Muito bom, pastor, sua revisão. Eu gostei também que o sr acrescentou os pontos negativos e positivos de cada posição para, no final, estabelecer este assunto como uma questão que requer liberdade. Parabéns mais uma vez.
ResponderExcluirPastor, excelente artigo. Fico feliz em poder ler suas ideias tão abrangentes e ao mesmo tempo sucintas e organizadas. Sou um pós-tribulacionista faz alguns anos e vejo neste artigo verdadeiro auxílio para organizar meus pensamentos. Um exemplo é o dia do Senhor, tema bem complicado e sua explicação da forma que o pós-tribulacionismo distingue da tribulação é muito interessante.
ResponderExcluirNão posso deixar de citar a aparente disputa entre sinais e iminência, tão bem colocada. Antes, ficava com a perspectiva do Grudem, mas gostei mais de sua explicação.
Quero dizer que os problemas concernentes ao pós-tribulacionismo são realmente de difícil resolução, o que me faz considerar ainda hoje o amilenismo como opção. Por outro lado, Ap 20 é motivo muito forte para considerar, não só o pré-milenismo, como também o pós-tribulacionismo. Só há duas ressurreições e ambas ocorrem durante/após o retorno visível de Cristo.
Queria também fazer duas considerações em 2Ts 2. Vemos que no v. 1 que a vinda da Cristo e nossa reunião com ele (igreja de Tessalônica e não Israel) ocorre após o aparecimento do Anticristo (v.3) e o v. 8 diz que o Anticristo será destruído justamente com a vinda de Cristo. Ora, se sabemos que o Anticristo estará no final da tribulação então essa vinda para nos buscar e destruir o Anticristo só pode ser pós-tribulacional, a não ser que Paulo esteja falando de duas vindas sem nos ter dado nenhum indício disso.
A outra consideração é acerca do que detém a manifestação do Anticristo. Os pré-tribulacionistas dão como certo algo extremamente obscuro. Alegam que se trata do Espírito Santo quando do arrebatamento pré-tribulacional. Ocorre que o texto não dá margem para essa interpretação. Se Paulo está avisando para a igreja que ela não se encontraria com Cristo na sua vinda enquanto não surgir o homem da iniquidade, o que o detém não pode ser o Espírito (pelos motivos alegados pelos pré-tribulacionistas), pois o que o detém será retirado antes do arrebatamento. Se o Espírito for o detentor, não deixará de deter por um arrebatamento que ocorre ulteriormente ao aparecimento do Anticristo.
Também quero lembrar do testemunho histórico a favor do pós-tribulacionismo. Escritos como o Didaquê e os dos pais apostólicos mostram uma crença de que a igreja iria passar pela tribulação, não havendo um sequer que tenha afirmado um arrebatamento pré-tribulacional (isso só acorre na idade contemporânea), ou seja, a igreja passou quase 2000 mil anos sendo pós-tribulacionista.
Quero também dizer que o mencionado fato de que alguns pré-tribulacionistas consideram sua posição como critério de ortodoxia me entristesse bastante. Ainda que eles estivessem com o entendimento escatológico correto não podem ignorar a obscuridade do assunto e as fraquezas e forças de cada posição.
ResponderExcluirAlém disso, negar o pré-tribulacionismo não é negar nenhum ponto essencial da fé cristã. O que é essencial dentro da escatologia temos que exigir, como as doutrinas do juízo, da volta literal e visível de Cristo, a transformação da criação numa nova etc. A ordem dos eventos do fim não estão nesse grupo, e se estivessem, quem deveria estar sob suspeita seria o pré-tribulacionismo, uma vez que históricamente surgiu por último e das 5 posições debatidas na escatologia (pré-milenismo pré-tribulacionista, meso-tribulacionista, pós-tribulacionista, amilenismo e pós-milenismo) é a única que defende que a igreja não passa pela tribulação.
O Pr. Mark Dever, autor das 9 marcas de uma igreja saudável, afirmou em recente pregação que esse tipo de exclusivismo imposto aos membros de uma igreja é pecado. Alicerçou seu argumento em Jo 17.23 onde Cristo ora para que a igreja permaneça unida a fim de que sejamos aperfeiçoados na unidade e que o mundo reconheça que Cristo de fato fora enviado pelo Pai. Para rompermos essa regra, que seja por um motivo realmente justo.
Por último quero parabenizá-lo pelo artigo e dizer que sinto falta de nossas conversas teológicas, momentos em que fui muito beneficiado em ouvi-lo.
ResponderExcluirEu gostei do comentário do Edson, mas só gostaria de afirmar que para o pr Romulo esse argumento histórico não serviria, pois a Igreja passou 2000 anos sem a gramática sistemico-funcional, e a distinção entre pragmática e semântica...hehehehe
ResponderExcluirCertamente que o argumento histórico não é definitivo, serve apenas para fortalecer aquela interpretação que, por si mesma, já possui fundamento escriturístico.
ResponderExcluirMais uma vez, não posso concordar com a expressão "por si mesma". Exegese não deixa de ser interpretação, e interpretação é dogmática, e dogmática nunca deve possui valor de verdade absoluta.
ResponderExcluirMas entendo, é um artifíco retórico...
Neto, quando vc escreveu "mais uma vez" me deixou em dúvida. Vc iniciou com essa expressão querendo dizer que tinha que escrever mais uma vez para me corrigir por meu uso do "por si mesmo" ou discordava novamente? Caso se trate do 1º caso, concordo com o má elaboração da frase. Se for uma 2ª discordância, então vc discorda de que o argumento histórico possui a relevância que eu havia declarado. Gostaria então de dizer mais algumas palavras sobre isso:
ResponderExcluirA força da historicidade da interpretação teológica é averiguada ao vermos os teólogos buscando o seu respaldo. Até mesmo os dispensacionalistas procuram nas palavras de teólogos antepassados respeitados pela igreja em todas as épocas sinais de que eles pensavam da mesma forma. Para mim é muito estranho o fato de que a igreja atravessou um período de mais de 1800 anos sem fazer uma interpretação pré-tribulacionista, nem mesmo a conhecia para refutá-la.
Esta semana, na Conferência Fiel, ouvi Paul Washer falar do papel que a história da igreja tem para a igreja atual. Disse que uma interpretação das Escrituras identificada como inédita dentro da história da igreja, ou diferente, provavelmente está errada.
Acho que todos nós deveríamos nos preocupar se nossas conclusões estão de acordo com as da igreja de outras épocas, representadas por estudiosos tão importantes na formação de nossas convicções atuais. Não quero dizer que eles acertam sempre, mas foram em vários aspectos superiores a nós, as vezes intelectualmente, as vezes na coragem e, outras vezes, na piedade.
Abraço.
Edson, eu disse mais uma vez porque eu estava discordando mais uma vez do que voce disse, no caso a expressão "por si mesma". No ambiente teológico não é tão prudente usar esses artifícios retóricos, pois soa como se o pre-tribulacionista fosse um "tapado" incapaz de ver o que está tão claro. Você deveria ler o Rejoinder de Douglas Moo no seu novo debate e verá que nem mesmo ele pensa dessa forma.
ResponderExcluirQuanto à história, irmão, eu acho também que a história possui sua relevância em qualquer debate. A expressão "nunca a igreja pensou assim" é, de fato, um argumento poderosíssímo.
No entanto, Edson, não devemos dar tanta ênfase assim. Quem conhece as influencias históricas e filosóficas sabe que foi apenas na virada para o século XIX que a exegese e a teologia bíblica começaram a ser enfatizadas na teologia. Antes do século XIX, a teologia bíblica basicamente existia para apoiar aos sistemas de doutrina. A igreja, por 18 séculos esqueceu-se, praticamente, de praticar teologia bíblica e uma exegese atenciosa.
Isso por que? Por causa das fortes ênfases filosóficas.
Você deve saber que Agostinho era extremamente neo-platonico. Então, nada mais natural do que negar um reino terreno, étnico. Você não acha esse um fator bem excuso para o amilenismo ter sido crido no século V?
Na idade Média e na Reforma, havia muito anti-semitismo, você não acha esse um motivo muito excuso de se crer que a Igreja é o Israel de Deus que substitui o Israel físico?
Cara, a história tem seus meandros. Nenhum fato histórico está livre de suas explicações contextuais.
Por isso, quando voce diz "Para mim é muito estranho o fato de que a igreja atravessou um período de mais de 1800 anos sem fazer uma interpretação pré-tribulacionista, nem mesmo a conhecia para refutá-la." voce talvez não perceba a diferença histórica e filosófica, e até teológica, que aconteceu na virada para o século XIX, e como a teologia era construída antes desse período.
A grande prova de que nós vivenciamos um era de fortíssima ênfase na interpretação bíblica é o desenvolvimento do estudo da gramática grega, como citei acima. Idéias como semantica e pragmática eram quase desconhecidas no passado, o que gerou uma série de falácias textuais.
Outro exemplo é a Nova PErspectiva em Paulo, que é resultante do movimento da teologia bíblica do século XX, que busca entender a Bíblia em SEU PROPRIO CONTEXTO, e não em um contexto platônico (patristica e Agostinho), aristotélico (escolásticos) e protestante (Reforma e puritanos).
Por isso, Edson, eu não sou tão confiante na história assim, apesar de reconhecer a importancia que ela tem.
Abraço
PS: estava com saudade de nossos "diálogos".
Neto, excelentes considerações. Você lembrou com muita propriedade as contribuições teológicas dos últimos séculos e dos erros de interpretação teológicas de outras épocas no intuito de fazer um uso equilibrado e realista das convicções registradas na história da teologia. Concordo plenamente com você. As minhas declarações não devem se opor as suas, mas ser um lembrete de que não devemos nos isolar em nosso tempo, como se nada acertado e tradicionalmente mantido não tivesse sido construído nos séculos distantes. Agradeço a atenção de sua resposta e reconheço que a leitura dela foi proveitosa para meu crescimento.
ResponderExcluirAbraço.
Boa tarde a todos,
ResponderExcluirCada escola teológica tenta inclinar versos esporádicos para favorecer seu dogma escatológico, restando apenas dois únicos pontos comuns positivos entre as três escolas teológicas: 1-Jesus virá. 2- E que haverá arrebatamento global da igreja.
Porém, o que essas três escolas teológicas não enxergaram até hoje, É QUE UM FATOR PROFÉTICO MAL INTERPRETADO, tem derrubado as pregações de mais de seis séculos das três teologias juntas: O TEMPO TOTAL DA GRANDE TRIBULAÇÃO.
Normalmente essas três teologias juntas, tomam por base "a última semana de Daniel - sete anos (9:24 e 27).para pregarem o tempo total da Gr. tribulação. Porém, as Escrituras nos revelam que a G.T. será três vezes mais que isso - cerca de 21 anos.
Fator esse que surpreendeu as cinco virgens néscias, exatamente na questão CRONOLÓGICA DA G.T. o desenrolar dum tempo tribulacional, superior "aos sete anos da última semana", Todavia, o que não conheciam e nem esperavam foi O TARDAR DO ESPOSO: "E, TARDANDO O ESPOSO, tosquenejaram todas e adormeceram". Mat. 25:5.
Ao passo que já as cinco virgens prudentes, sabendo que o esposo é poderoso, para fazer tudo muito mais abundantemente além da expectativa humana (Efe.3:20), levaram consigo juntamente com suas lâmpadas, a reserva do azeite EM SUAS VASILHAS (Mat. 25:4).
Meditem nisso!
Abraços - E-mail: jaime.ap@hotmail.com